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Ensaio sobre um ensaio

por Magda L Pais, em 30.09.08
Foto de Todd Laffler
“O ensaio cresce no quintal...
Que irei colher?
Talvez uma mão cheia de palavras daninhas…
Lamentos, perdas, sombras, amuos
Enfim, tudo germina Nesta vida sem estufa…”

Assim comecei!
Primeiro, delineei traços de gente… Suei a compor rostos fragmentados pelo tempo devidamente ungido por mãos que fraquejaram na escolha do melhor enquadramento cénico. Todos presentes, até Deus! Sem falas, sem maquilhagem… apenas sorvíamos pedaços de inquietude. E eis que irrompe a famigerada ordem de acção… Nem pano, nem palco, nem cadeiras… Apenas terra e um ponto.
Assim começou!
Era o fim de um dia radioso, mas seu fim já nem me lembro. Desfoco momentos, subtraio sorrisos, baralho saudades… Tentarei repetir-me na adjectivação sumária, pois se semeio vontades alheias talvez ache a mais certa. E não é fantástico? Bater palmas, na antecâmara dos meus medos, será um acto devidamente fundamentado. Todos estarão presentes, até Deus!
Assim começará o ensaio….

Cristovão Siano (também conhecido por Freudnaomorreu)

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Amantes

por Magda L Pais, em 28.09.08
Foto de Kenvin Pinardy

Amantes como no primeiro dia
A troca de olhares e sentimentos
a troca de carinhos e magia
Somos amantes, vivos!
Somos amantes na vida
quem pode escolher?
sem saber o que encontrar...
os amantes apenas são servos
do falta da palavra amar.
E como um amante ama?
coloca seu corpo ali,
presente sobre uma cama...
e como uma amante sente?
quando o outro está ausente?
Um amante sofre e deixa-se ir
ao encontro da saudade
ou talvez deixa-se sentir.
Amantes falam calados
sentem profundamente
e não desperdiçam minutos
segundos nem horas...
Nós somos amantes pelas
noites ou dias, sem demoras.
Amantes que vêm ao longe
que não param para pensar
a não ser naqueles momentos
em que ambos sabem desfrutar,
do sexo, do prazer
do beijo ardente
amantes sabemos todos ser.

Iolanda Neiva

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Posso escrever os versos mais tristes esta noite

por Magda L Pais, em 27.09.08
Foto de Novic Arman Zhenikeyev

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

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Já te disse hoje que gosto de ti?

por Magda L Pais, em 24.09.08
Foto de Ellen van Deelen
Um café! Acordou-me devagar, ainda não refeito de uma noite dormida à pressa. Dei os primeiros passos cruzando-me com pessoas conhecidas, que, alegremente, me davam um inusitado “Bom – Dia”. Respondi a todas com um gémeo cumprimento. Ficou-me a energia, revigorante, das pessoas com que me cruzei!
Meditei… antes nunca tinha pensado nesses pormenores, levava a vida a correr, num contra relógio contra o tempo, o meu tempo, em suma, contra mim.
Deixava passar os minutos, sem reparar neles, apenas reparava em algumas horas porque a sociedade me habituara aos horários preestabelecidos…
Não era eu! Não o verdadeiro eu…
Mas naquele dia, tudo seria diferente, mesmo que o meu exterior não o revelasse, mesmo que o meu rosto não o expressasse, era um dia diferente.
O dia da consciência! O dia que quebrava a barreira das oposições e conseguia entrar na essência do meu Ser, concedido pelos meus semelhantes que comigo conviviam diariamente.
Um café, mais um, para competir com tamanha alegria que sentia. Tinha-me revelado. Finalmente tinha entendido o sinal…o simples sinal de que podes ser tu mesmo se assim quiseres!
De alegria incontida, procurei-te, sim a ti que lês as minhas singelas palavras, a ti e a ele, e a ela, pela mensagem que não cheguei a mandar e pelo telefonema que pensei fazer, pelo e-mail que ficou por escrever, pelas várias possibilidades… mas acredita que te procurei, sei que sentiste essa energia e não ligaste, um arrepio, um vento suave ou um calor passageiro, era eu a tentar abrir a linha da nossa comunicação para te questionar, livre e abertamente, sem malícias ou secretos desejos, sem que fosse preciso uma resposta pronta e composta… e no tempo livre que gastei a viajar pelas pessoas, uma a uma, adornando as suas qualidades, deixei-me ficar aqui, sentado neste banco de jardim, etéreo, de lápis na mão a escrever no meu caderno dos desejos… vezes sem conta a frase repetida na minha mente…
Já?
Já te?
Já te disse?
Já te disse hoje?
Já te disse hoje que?
Já te disse hoje que gosto?
Já te disse hoje que gosto de?
Já te disse hoje que gosto de ti?
Já te disse hoje que gosto de ti? Já te disse hoje que gosto de ti? Já te disse hoje que gosto de ti?
E o meu pensamento, afectuoso, sussurrou ao teu ouvido…



No próximo dia 27 de Setembro, pelas 15 horas, no Auditório da Câmara Municipal da Amadora, vai ser o lançamento do livro do escritor Paulo Afonso Ramos, Mínimos Instantes, pela Edium Editores.

A apresentação da obra e autor estará a cargo do poeta Xavier Zarco. No decorrer do evento serão declamados poemas do livro por Dionísio Dinis e interpretados trechos musicais por Sandra Rodrigues. Mínimos Instantes, um livro em prosa poética, construído por instantes intensos, que nos transportam para um universo de sonho. Uma forma de fugir ao quotidiano e de seguir pelo caminho da esperança, numa reflexão inconsciente, através de excelente leitura.

Podemos sentir cada mensagem intimamente, num excelente exercício onde se mistura o prazer de ler, e o de saciar a alma, num mesclado de curiosidade e aprendizagem, levando-nos, em alguns casos, a embarcar numa viagem inesperada.

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A você, com amor

por Magda L Pais, em 22.09.08
Foto de Salih Güler

O amor é o murmúrio da terra
quando as estrelas se apagam
e os ventos da aurora vagam
no nascimento do dia...
O ridente abandono,
a rútila alegria
dos lábios, da fonte
e da onda que arremete do mar...

O amor é a memória
que o tempo não mata,
a canção bem-amada
feliz e absurda...

E a música inaudível...

O silêncio que treme
e parece ocupar
o coração que freme
quando a melodia
do canto de um pássaro
parece ficar...

O amor é Deus em plenitude
a infinita medida
das dádivas que vêm
com o sol e com a chuva
seja na montanha
seja na planura
a chuva que corre
e o tesouro armazenado
no fim do arco-íris.

Vinicius de Moraes
in Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas"

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Sentimentos escondidos

por Magda L Pais, em 18.09.08
Foto de Airi Pung

Já repararam que, na sociedade em que vivemos é, cada vez mais, raro ouvir alguém dizer “amo-te” ou “gosto de ti”? E que aqueles que o dizem, muitas vezes, fazem-no com receio de serem mal interpretados?
É claro que muitas vezes demonstramos, pelos nossos actos, que amamos alguém. Mas será que a outra pessoa o percebe? Será que não vai pensar que reagimos assim com todos os outros?
Não é fácil, eu sei e assumo. Gostava de ter a coragem necessária para ser a primeira a dizer: “Amo-te. Gosto de ti”. Parece fácil… Mas não é! Porque não sei o que vão pensar de mim, nem sequer sei se sentem o mesmo. Podem reagir assim com outras pessoas e eu ser apenas mais uma. Ou não... Enquanto não me dizem o que sentem, eu não terei a certeza. E com vocês, também é assim, não é?
Mas, pensem lá comigo… Se nós não o dissermos, também não vamos ouvir! Se não o dissermos não vamos saber se sentem o mesmo ou não!
Não temos de esconder o que sentimos a quem é o objecto da nossa afeição. Porque, se o fizermos, estaremos a esconder uma parte fundamental de nós a quem mais nos importa. E para quem somos importantes. E se não quiserem que o resto do mundo saiba, não interessa. Basta que os envolvidos saibam!

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A carta que nunca mostrei…

por Magda L Pais, em 17.09.08
Foto de emmanouil papadopoulos

Se eu pudesse dizer-te o que penso e o que sinto… se ao menos tivesse um segundo de coragem, quando os meus olhos se cruzassem com os teus, ai se eu pudesse ir ao limite do meu sonho, enfeitar a tua imagem luzidia e espontânea com pétalas de inocência e perfume de paixão, que guardo com carinho no tesouro do meu memorial, ai se ao menos pudesse seguir os meus instintos mais desmedidos sem o receio de te perder definitivamente, antes de te ter… soltaria o meu maior segredo que guardo com a esperança de realiza-lo, oh segredo tímido ou tímido sentimento, oh movimento intelectual constante enrolado no meu consciente com uma ternura presa, que provoca aguçados apetites, cora e suspende qualquer atitude irreflectida mas desejada, ladeada com o pensamento mais atroz, o de simplesmente não acreditar que poderei ser feliz.
Ai se pudesse… libertar-me do sonho por realizar e concretiza-lo, libertar-me do pesadelo escondido e reprimido de não poder exercer o sentimento puro e simples de um ser humano natural.
Ai se pudesse, mudar o mundo para chegar até ti, sonhar indeterminadamente que é possível estar ao teu lado permanentemente, apenas com um som altivo e assumido de uma palavra-chave – AMO-TE – o meu mundo mudaria e a felicidade seria a minha maior amiga.
Ai se pudesse dar aquele passo, dizer-te aquela palavra, soltar-te o meu charme para entrelaça-lo com o teu.
Ai se pudesse soltar a imaginação em conjunto, mover os desejos em simultâneo e descansar nos teus braços acolhedores, a vida começava agora, se eu pudesse… se tu quisesses…


De Paulo Afonso Ramos

E eu acrescento apenas... Se eu soubesse escrever assim...

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Vinho Quente

por Magda L Pais, em 16.09.08
Foto de Elgars Retigs

Escorregas em mim quente,
Doce.
Adivinho-te pelo odor puro,
Frutado.
E apeteces-me…
Tua cor de sangue desperta-me o desejo
De te ter assim meu, nosso…
Ardente,
Quente!
Não te bebo,
Saboreio-te na lucidez da noite,
Brindo à lua que se despe devagar,
Pálida, invejosa.
Mas és só meu e escorregas em mim…
Quente,
Ardente…

Poema escrito por Vera Silva e vencedor do concurso literário do site luso-poemas.net dedicado ao vinho

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Poema em linha recta

por Magda L Pais, em 10.09.08
Foto de Wojciech Gaczek


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irresponsavelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

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Palavras perdidas

por Magda L Pais, em 03.09.08
Hoje não grito para que me ouçam
Hoje fico em silêncio para que me sintam...
Preciso de ti... Preciso da tua voz para me embalar nas noites vazias.
Anseio ouvir-te dizer: "quero-te" embora a minha mente me grite que não o dirás...
Ainda assim espero, desejo, sonho...
Contigo e com o teu cheiro.
Com o teu sabor. Com a tua voz deitada na palavra proibida de querer...
Estas mãos marcadas pelo teu toque, que agora escrevem, já não te acariciam... estes olhos, nos quais tu despertaste um brilho já não te vêem... este coração que bate por ti nada sente e as vozes que ouves são 'fantasmas' que vieram embalar os meus sonhos e acordar os pesadelos, memórias enterradas, esquecidas e abandonadas. A minha alma, vazia, corre na tua direcção, em busca de conforto, de carinho, de amor...
Esta minha alma perdida, perde-se no nada, na esperança que deixou de o ser. Se tu a visses, se a pudesses ver...
Tenho saudades de mim, do que fui há muito, muito tempo atrás... Dei o que jamais darei. Sorri num tempo bondoso, chorei numa vida madrasta e vim morrer nos teus braços, nesses teus braços onde sempre fui criança... Agora abandonaste-me...
Para que me prometeste que irias estar aqui ao meu lado SEMPRE?
Se preciso de ti AGORA e não estás... para que disseste que eu nunca iria ficar sozinha se a única companhia que tenho agora são as lágrimas e um reflexo num espelho que hoje já nada me diz... Para que me agarraste e abraçaste com tanta força? Para depois me largares tão de repente... se agora a única coisa que abraço são recordações em forma de pesadelos que insistem em me relembrar todos os dias o que foi mas que já não é... Largaste-me, deixaste-me cair... sem simplesmente me dares esse teu sorriso que me dá vida... Sim também percebo que para ti esta ausência do NÓS não esteja a ser fácil, só que és mais forte do que eu, aliás és mais TUDO do que eu se calhar é por isso que te admiro tanto... Mas, não percebes que simplesmente preciso de ti? Da tua presença junto de mim? Fiquei nesta dor que me consome, nesta tristeza infinita. Ai, se tu pudesses ver esta alma vazia, perdida no nada... Se pudesses sentir, sentir o que já não sinto, se pudesses vir ao meu encontro e eu te pudesse abraçar, beijar, amar... Eu ainda te amo, mas tu não sabes, ainda te beijo mas tu não vês, ainda te abraço todas as noites mas tu não sentes...
E sabes o que nos separa? São as palavras, São as palavras...


Andava eu a passear de blog em blog, como é meu hábito, quando encontrei o blogue da Ana Luiza, autora deste texto. Fiquei presa aos textos colocados por ela, dada a qualidade que demonstra.
Além da qualidade dos textos, a Ana demonstra ter garra, ter personalidade e corajosa.
Acho que estamos em presença de um novo talento. Espero que o tempo me venha dar razão.
Visitem o blog http://analuiiza17.blogspot.com/ e comprovem por vós.
Notem ainda que a foto também foi feita por ela.

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