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Está interiorizado, na mente de quase todos (ou, pelo menos, dos católicos) que se deve, após a morte dum ente querido, celebrar a missa de sétimo dia. Talvez porque ao sétimo dia, Deus descansou e se entende que o defunto também está, finalmente, a entrar no seu período de descanso.
Sou católica mas confesso que não entendo a necessidade desta missa. Aliás, como não entendo muitas das cerimónias feitas em redor da morte, onde, muitas vezes, se usa, e abusa, dos sentimentos dos familiares para se ganhar dinheiro (e muito dinheiro mesmo).
Porque a morte nunca me fez confusão, e porque a aceito a com a naturalidade com que se aceita tudo o que é inevitável, resolvi, hoje, celebrar uma missa diferente. E porque nem sempre a missa do sétimo dia é celebrada no dia devido, hoje vou celebrar a missa do oitavo dia do meu avô.
O meu avô faleceu há pouco mais de sete anos. Tive, na véspera da sua morte, a oportunidade de lhe dizer o quanto o amava. Não há dia nenhum que não me lembre dele e que não sinta uma saudade enorme. Dele, do seu assobio inconfundível, das torradas que só ele sabia fazer e das conversas que tínhamos.
Avô, onde quer que estejas, sei que estás feliz por veres que, tal como me pediste, tenho cuidado da tua bisneta mais velha, tal como tenho cuidado do bisneto que sabias que ia nascer e me disseste logo que já não o irias conhecer. De certeza que também estás feliz por ver o teu outro bisneto, aquele que herdou o teu nome, a tornar-se num lindo menino e a cuidar da irmã que tem o nome da tua irmã. Avô, a tua história de amor com a avó abriu-me as portas para a escrita, sabias? Até nisso me acompanhaste. Ah, e sim, tenho entregue os impostos da avó como me pediste. E já viste, com certeza, que vai nascer mais um bisneto, filho do teu neto.
Como te prometi no dia do teu funeral, a todos os teus bisnetos falo de ti. Quero que eles saibam que nós, as mães deles, tiveram o melhor avô que se pode querer (ou, como a avó dizia, o melhor advogado de defesa).
Já percebeste também que a família continua unida como sempre foi. Umas discussões aqui, outras ali, mas nada nos afasta uns dos outros, como sempre quiseste. A nossa união mantêm-se por nós, mas também por ti, que foste, com a avó, a razão da existência desta família.
A meio do terceiro período escolar, os meus pais mentiram-me: disseram, a mim e ao meu irmão, que tinham tirado dias de folga para irmos a Sesimbra. A mãe disse que o nosso carro ia para a oficina, e que tínhamos de ir ao aeroporto buscar o seu afilhado, que vinha da Madeira, no carro da tia. Mas a mãe também disse que, quando fossemos para o aeroporto, tínhamos de levar as malas porque a tia tinha de ir às compras e ia comprar muita coisa e as malas não iam lá caber. Eu e o Martim (o meu irmão) acreditamos. Eu e o Martim, que estávamos a fazer as malas, ouvimos a mãe dizer, alto e bom som, que íamos ver um avião por dentro.
Quando chegamos ao aeroporto, a mãe foi entregar as malas e mandou-nos irmos dar uma volta pelo aeroporto. Quando a mãe regressou, já sem as malas, fomos para a sala de espera do aeroporto. A mãe apontou para um avião e disse que era aquele que íamos visitar.
Passado um bocado, fomos para o avião vê-lo por dentro. A mãe disse que tínhamos de fingir que íamos voar e, portanto, tivemos de nos sentar.
Quando o avião estava prestes a levantar voo, entrei em pânico, e estava sempre a dizer: mãe vamos sair! Mãe vamos sair!...
E continuava desesperada, quando a mãe nos diz: Afinal não vamos para Sesimbra, vamos para Paris!
Eu fiquei de boca aberta e cada vez mais em pânico e perguntei: mãe, o piloto é experiente? Ele já fez muitos voos? Este avião é seguro?
E perguntei muitas mais coisas, ao que a mãe respondeu: sim, este avião é o mais seguro. A TAP (Transportes Aéreos de Portugal) é a companhia de aviões mais segura e ainda só teve um acidente com estes aviões mas foi há muito muito tempo.
Mais tranquila, sossegada e com menos pânico, deixei-me ficar sentada. Momentos depois, a mãe disse que o avião ia levantar voo e, na verdade, começou a andar.
- Tamos a andar – disse o Martim.
- Claro que estamos, não querias ficar aqui parado o tempo todo, Martim – murmurei eu, mas nem a mãe nem o Martim ouviram.
- Encostem-se, vamos começar a andar mais depressa e depois vamos voar!
E começamos mesmo a voar. Íamos a uma grande velocidade.
- França, aqui vamos nós! – disse eu – Paris, aqui vamos nós!
Maggie, 9 anos
Esta é a primeira parte da história das últimas férias em família, escrita pela minha filha e que eu, como mãe muito orgulhosa, resolvi mostrar-vos a todos.
Estamos a chegar a mais um período de férias, daquelas férias que, nos meus bons tempos de escola, chamava de grandes. Eram quase três meses de descanso. A maior parte desse tempo era passado na casa dos meus avós maternos (os meus avós paternos faleceram antes de eu nascer), e, logo que os meus pais tinham férias, íamos todos para um outro lado.
Tratando-se a internet dum espaço irreal, ou, pelo menos, dum espaço não palpável, poder-se-ia pensar que a sua realidade nunca se cruzaria com a realidade da vida real.
No entanto a verdade é que, cada vez mais, são duas realidades que se cruzam muitas das vezes sem que os intervenientes tenham essa percepção. É um e-mail de trabalho que se envia para ali, é um amigo ou amiga que se reencontra por culpa das redes sociais, é um blogue que se visita e que, rapidamente, se torna local de peregrinação, é um texto que se coloca e que é mal interpretado por alguns e que leva a uma troca de palavras menos agradáveis. São amizades reais que nascem por força do convívio virtual num espaço irreal e outras que se perdem por se descobrir que aquela pessoa que julgávamos conhecer desde sempre, e de quem até gostávamos, não é quem pensávamos.
Cabem, neste espaço da internet, irreal ou virtual, histórias de todos os géneros, para todos os feitios e com todos os fins. Uns mais felizes que outros, alguns divertidos, outros mais sérios, este aqui com consequências más, aquele dali foi o melhor que podia ter acontecido.
E é engraçado, ou não, perceber que esta realidade já chegou até as mais altas esferas sociais!
Em suma, a realidade da internet não é nada mais, nada menos que uma transposição do que se passa na vida real.
O problema é que, muitas vezes, por se estar a coberto dum nickname e sem que nos vejam, baixa-se a guarda e tem-se atitudes que não se teriam em situações normais. Reside, neste factor, uma boa parte da culpa dos problemas que são conhecidos. Ninguém, no seu perfeito juízo, começa a dar os seus dados pessoais a alguém que tenha conhecido no café da esquina ou os afixa num placard do supermercado. Então o que leva a que dêem esses mesmos dados em salas de chat ou em sites?
É preciso reflectir sobre o que se disponibiliza na internet. Temos, neste espaço irreal, de respeitar a nossa própria privacidade como o faríamos num qualquer espaço real, com pessoas de carne e osso em vez de avatares ou nicknames.
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