layout - Gaffe
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Estávamos em Setembro de 1849 quando aconteceu a primeira greve em Portugal. Na altura os operários das fábricas José Pedro Collares e Filhos, Phenix, Vulcano e João Bachelay fizeram greve pelo direito a trabalharem o ano todo de sol a sol em vez de, no Outono e no Inverno fazerem serão, mantendo o valor do ordenado igual todo o ano.
E em 1 de Maio de 1886, em Chicago, dezenas de operários foram mortos porque fizeram greve e se manifestaram nas ruas para que o horário de trabalho fosse reduzido a 8 horas diárias. Dai em diante, mesmo com as proibições e correndo, verdadeiramente, o risco de morrerem, os trabalhadores começaram a lutar pelos seus direitos, uma vez que não havia contratos de trabalho, férias, protecção na doença, segurança social, horários, etc.
E foi assim, com o sacrifício de uns, que muitos ganharam os direitos de que hoje usufruímos. Todos aqueles que se sacrificaram merecem, da minha parte, todo o respeito.
Estamos em Dezembro de 2012. Só este mês (já nem vou falar no ano inteiro) já perdi a conta à quantidade de greves que tiveram lugar em Portugal. O ano de 2013 vai iniciar com mais uma greve na Soflusa.
A greve, um direito conquistado com o sangue de tantos trabalhadores, o último recurso na luta legítima dos trabalhadores tornou-se tão banal que já ninguém percebe porque é que acontece. E pior é que o direito à greve de uns colide com o direito ao trabalho dos outros.
Quem, como eu, vive no Barreiro e/ou usa os transportes públicos para fazer o trajecto casa/trabalho sabe o quanto pode ser prejudicado no trabalho por causa das greves. Conheço pessoas, que vivem no Barreiro e que perderam o emprego precisamente porque o patrão se fartou dos atrasos causados pelas greves. Outros respondem a anúncios de emprego mas são colocados de parte porque vão ter problemas nos transportes.
E que dizer da atitude de alguns grevistas quando tentam impedir os colegas de irem trabalhar nesses dias? Destroem as viaturas, ameaçam com pedras e paus…
Na Soflusa já assisti a greves pelas razões mais idiotas. As duas piores foram, sem dúvida, a greve de solidariedade para com os motoristas da REN e a greve para evitar um processo disciplinar a um colega que desrespeitou as regras de navegação no Tejo. São uma dúzia de grevistas que prejudicam milhares de pessoas que querem e precisam de ir trabalhar. São uma dúzia de trabalhadores/grevistas a prejudicar milhares de trabalhadores. Não me parece que fosse por este principio que os operários de Chicago lutaram…
Não entendam isto como sendo contra a greve. Não sou. Querem fazer greve, façam uma greve de zelo. Para quem não sabe, uma greve de zelo consiste em seguir rigorosamente todas as normas da actividade, o que acaba por retardar, diminuir ou restringir o seu andamento. Assim fazem greve e não prejudicam os outros trabalhadores.
Trabalho (com muito orgulho) no Santander Totta há 22 anos. Desde o primeiro dia que as instruções que nos são transmitidas é que todas as pessoas, clientes ou não, que se dirijam ao banco independentemente da cor, idade, formação, situação financeira, cheiro ou aspecto, devem ser atendidos exactamente da mesma maneira. Com cordialidade, simpatia, atenção ao cliente tendo, como último fim, a resolução do problema ou questão que a pessoa coloca.
Já atendi clientes que cheiravam tanto, mas tanto, a falta de água que, quando saíram eu tive de ir à rua para arejar. Já atendi uma cliente que decidiu, a meio do atendimento, mudar os collants que tinha vestidos. Já atendi pessoas com roupas rotas e com roupas Armani. Já atendi alunos, professores, doutores, engenheiros, ministros, varredores de rua, desempregados, analfabetos, novos, velhos, casados, solteiros, com tanto dinheiro que nem sabem o quanto e sem dinheiro para beber um café. A todos tratei com a mesma cordialidade, com a mesma simpatia. A todos tentei resolver os problemas que os levaram a ir ao banco. De todos me despedi com um aperto de mão e com um “espero vê-lo em breve”. Porque foi assim que aprendi quando entrei para o Banco, porque são estas as instruções que temos, porque é assim que o cliente merece ser tratado.
Somos mais de 6000 empregados espalhados por umas centenas de balcões e edifícios centrais. Somos mais de 6000 pessoas que estão a ser julgadas porque um de nós agiu mal (ou pelo menos assim aparenta, uma vez que ainda não se ouviu a sua versão). Somos 6000 pessoas a ser insultadas. Ponha-se no nosso lugar, no lugar das 5999 pessoas que agem como deve ser e que obedecem ao normativo interno. Como é que se ia sentir?
Depois de tantos fins do mundo a que já assisti (sim, sim eu estive presente quando o mundo acabou em 1999, 2000, 2002, 2006, 2008 e 2011), claro que vou estar presente neste fim do mundo marcado para dia 21 de Dezembro. Só não sei ainda as horas porque ninguém me avisou.
Temos aqui, na questão do horário, um problema de logística. Afinal o mundo acaba todo ao mesmo tempo ou, à semelhança da passagem de ano, começa em Kiribati e acaba no Haiti?... era importante saber, se bem que acho injusta qualquer uma das formas.
Importa agora analisar as diversas teses para este fim do mundo.
O norte-americano José Arguelles, um visionário New Age, afirma que "maias galácticos viram das estrelas para salvar 144 mil terráqueos evoluídos, a bordo das suas naves”. Ou seja, dia 21/12, vão vir charters de maias galácticos. E antes de saírem das naves vai-se ouvir "quem tem velas e comida enlatada para a esquerda, terráqueos evoluídos para a direita, restantes serão fulminados!!!!"
E porquê velas e comida enlatada? É que parece que há muita gente a comprar destes produtos para se preparar para o fim do mundo. A sério?!??!?! Gostava que essas alminhas inteligentes me explicassem para que servem as velas se o mundo acabar… Só se for para serem considerados evoluídos e portanto serem salvos pelos maias galácticos.
Confesso que também acho piada aos bunkers e às arcas capazes de resistir ao apocalipse. Ok, vamos acreditar que as arcas resistem e os bunkers também. E depois? Se não houver mundo servem para quê? Não é suposto o mundo acabar?...
Parece que também há a hipótese dum planeta que nunca ninguém viu, chamado Niburi colidir com o nosso planeta nesta sexta-feira. É possível… mas só porque toda a gente nesse planeta apagou as luzes e ele vem de mansinho pelo ângulo morto do espelho retrovisor. Ah, estão ali a dizer-me que Niburi não tem luzes para serem apagadas nem estamos num carro. É verdade, mas também é verdade que, por esta altura, já seria mais visível que a Lua e parece-me que ninguém o viu ainda.
Mas desengane-se quem pensa que o fim do mundo está próximo só por causa do calendário maia. Nostradamus também previu o fim do mundo. Aliás, bem vistas as coisas, nenhum fim do mundo está completo sem que Nostradamus o preveja.
Diz a profecia, desta vez, que “Da calma manhã, o fim virá/Quando o número de círculos/do cavalo dançante chegar a 9”. Só há uma maneira de evitar esta profecia que é deixar de ver, no Youtube, o vídeo da música Gangnam Style do rapper Psy. Confusos? Não estejam, que eu explico. Psy é natural da Correia do Sul que se pode traduzir como “Terra da Calma Manhã” e a dança associada ao Gangnam Style imita um cavalo a dançar. Resta o problema dos 9 círculos. Ou então não. O vídeo está quase a atingir, no Youtube, 1 bilhão de visualizações que é um número com 9 zeros/círculos. Como se vê, Nostradamus era um rapaz mesmo muito à frente do seu tempo e conseguiu incluir o Youtube numa das suas muitas previsões…
Uma coisa é certa, dia 21 de Dezembro, por via das dúvidas, vou trazer a minha melhor roupinha para festejar este fim do mundo. E venha de lá o próximo para que eu possa dizer “fim do mundo? Eu vou!”
A propósito do desafio dos blogs do Sapo sobre o livro que mais gostei de ler em 2012, e depois de alguma ginástica mental (já que não faço de outro género) tentei perceber que livro terá sido o que me encheu as medidas neste ano que está mesmo quase a terminar.
Terá sido a Guerra dos Tronos de George R. R. Martin, que, por entre 10 livros, me levou a um mundo fantástico onde ser a personagem principal não é sinónimo de sobreviver, onde, tal como na vida real, não interessa se se é bom ou mau, a morte acaba por chegar. Enquanto lia estes livros quase que sentia o frio da muralha ou o sopro dos dragões.
Talvez tenha sido a trilogia Os Pilares do Mundo de Anne Bishop que me levou ao mundo dos Fae e à sua incapacidade de reconhecer o seu passado, o egoísmo e a aversão a outras espécies quase que os leva à destruição. Com estes livros viajei entre cá e lá, pelo nevoeiro, tive medo do Inquisidor e festejei as vitórias da casa de Gaian.
No verão, enquanto estava na praia, tive oportunidade de ler a trilogia Millennium de Stieg Larsson. Confesso que comprei por impulso e, ao mesmo, a medo. Com os títulos que estes livros tem (Os Homens que Odeiam as Mulheres, A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo e A Rainha no Palácio das Correntes de Ar) achei que, das duas uma, ou amava ou odiava. Amei. Li os três livros de seguida, sem intervalo, entre a praia e a piscina, na areia e em casa, na cama ou no sofá. Sempre que parava abria o livro e começava a ler. Cada capítulo acaba no sítio certo para nos deixar curiosos em saber o que vai acontecer a seguir e o que acontece não é o que estamos à espera.
Uma morte súbita de J R Rowling? As brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley (relidos mais uma vez)? A saga do assassino ou o Regresso do Assassino de Robin Hodd? Aventuras de João sem Medo de José Gomes Ferreira, lido e relido várias vezes? Lilith de Cláudio Gil? A demanda do ideal de Armando Sena? Filho de Thor de Juliet Marillier? Cem anos de solidão de Gabriel Garcia Marquez? Noite sobre as águas de Ken Follett?...
A verdade é que chego a Dezembro e li tantos livros este ano e nos anos anteriores que as memórias se cruzam e torna-se quase impossível dizer qual foi o melhor deste ano. Nem dos anos anteriores. Sei que cada livro que leio é melhor que o anterior e pior que o seguinte e que, por isso, continuo em busca do livro do ano ou do livro da minha vida. O que sei é que, “em cada livro, encontro trechos que parecem confidências ou apartes ocultos para qualquer outro e evidentemente destinados ao meu ouvido”1 e por isso continuo a ler, à procura desses trechos, desses momentos únicos que cada livro me transmite.
1 - Adaptado do texto seguinte "É o bom leitor que faz o bom livro; em cada livro, ele encontra trechos que parecem confidências ou apartes ocultos para qualquer outro e evidentemente destinados ao seu ouvido; o proveito dos livros depende da sensibilidade do leitor; a ideia ou paixão mais profunda dorme como numa mina enquanto não é descoberta por uma mente e um coração afins" de Ralph Waldo Emerson, in 'Sociedade e Solidão'
Volta não volta, (re)aparecem, aqui ou ali, debates sobre a segurança e a privacidade na internet. Se, nuns casos, a questão merece alguma análise, noutros nem por isso.
Incluem-se nos casos “nem por isso” aqueles avisos fantásticos que todos já vimos publicados nos murais dos nossos amigos do Facebook que começa por “aviso de privacidade” e depois chama, ao barulho, algumas leis que, em boa verdade, nem sequer existem. Estes avisos têm tanto valor como um lojista colocar na montra da sua loja um aviso a dizer “não olhe cá para dentro”. Faz sentido? Não, pois não. Ou por outra, faz tanto sentido como este aviso que é disseminado vezes sem conta…
Parece-me importante que se perceba que, a partir do momento em que acedemos ao Facebook, ou a qualquer outro site do género e clicamos no “concordo com os termos de utilização” não é um aviso no mural que vai alterar coisa alguma. Ou será que alguém acredita mesmo que o Facebook tem empregados a ler, a todo o instante, o que cada um de nós escreve no seu mural?... Parece-me que não. Ou será que, quando nos inscrevemos não lemos os termos de utilização?
Já nos casos mais sérios e que necessita de alguma reflexão por parte de pais e educadores é o acesso de menores à internet e a divulgação das suas fotos. Li no outro dia um artigo interessante sobre a colocação de fotos dos filhos por parte dos pais em que são abordadas as diversas questões relacionadas com o tema. Acho que merece uma leitura atenta por parte dos pais e educadores mas também por parte das crianças, afinal elas também usam a internet. E, infelizmente, muitos pais não são utilizadores assíduos da internet e não se apercebem do risco.
Na minha opinião, e vale o que vale, não se devem colocar fotos de menores na internet, em blogs, redes sociais ou no que for. Nada garante que apenas os amigos vejam as fotos e nada garante que não possam ser usadas por pessoas com intenções menos boas. E não necessariamente apenas por pedófilos. Soube, à pouco tempo, dum caso em que uma mãe colocou a foto do filho que estava doente no seu facebook para ir dando noticias da criança aos seus familiares e amigos e outra pessoa, perfeitamente desconhecida da família, usou essa foto para enviar e-mails a pedir dinheiro. Julgava a mãe que tinha colocado a foto apenas visível para um grupo restrito mas afinal não.
Hoje em dia as crianças começam cada vez mais cedo a utilizar a internet. Tem facebook, participam em jogos on-line, tem e-mail. Devem os pais proibir? Eu entendo que não. O fruto proibido é o mais desejado e corremos o risco de elas acederem noutros locais sem a supervisão dum adulto responsável. É mais importante alertar a criança para os riscos que corre e ensinar a ter os devidos cuidados. Claro que com peso e medida, não podemos nem devemos exagerar os riscos nem menosprezar os cuidados. Aqui, na internet, como na “vida real” devemos, aos poucos, ir diminuindo as restrições, aumentando as permissões e esperar que, entre o que lhes fomos ensinando e a sua personalidade, eles saibam fazer as escolhas correctas.
Leiam o artigo “devem os pais colocar as fotos dos filhos no facebook” neste link:
http://pplware.sapo.pt/pessoal/opiniao/debate-devero-os-pais-colocar-fotos-dos-filhos-no-facebook/
Hoje fui às compras. Não que precisasse de alguma coisa especial cá para casa mas porque muitas pessoas precisam e não tem a possibilidade de as comprar. Lá fomos os quatro e os meus dois filhos tinham, cada um deles, um saco do Banco Alimentar. Escolheram, dos alimentos que mais falta fazem, quais os que queriam incluir em cada um dos sacos. Ela escolheu os cereais, bolachas, feijão, massas e salsichas e ele o açúcar, atum, óleo, azeite e leite. Depois de pagarmos foram, os dois, entregar a nossa contribuição para melhorar a vida de alguém. Só o facto de sabermos que outra pessoa, seja ela quem for, vai poder ter umas refeições melhores, seguramente que melhorou o nosso dia. Ajudamos sempre que podemos e é assim que ensinamos os nossos filhos. A que ajudem, sempre que possível, os mais carenciados.
Se todos nós o fizermos, de certeza que mais pessoas podem ser ajudadas. E sim, através, por exemplo, do Banco Alimentar, instituição na qual eu acredito.
Pena é que muita gente escolha virar a cara, fingir que não vê e continue a fazer a sua vida de luxo sem pensar que há quem efectivamente precise e só sobreviva porque é ajudado por estas instituições que tentam, ao máximo, cumprir com o que está contemplado no artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente que lhe assegure e à sua família, a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda aos serviços sociais necessários.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.