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Estaremos a pecar por excesso?

por Magda L Pais, em 09.03.17

Ontem o StandVirtual cometeu a “asneira” de brincar com um estereótipo: as mulheres não sabem estacionar.

Caiu o carmo, a trindade, o papa e o santo António e mais umas quantas beatas. Que era machista, misógino, estereotipado e sabe-se lá mais o quê. Foram tantas as críticas, ameaças e afins que achei, por momentos, que tinham cometido um crime de lesa-majestade. Ou, pior ainda, que tinham matado alguém.

Eu ri-me. Primeiro porque eu detesto estacionar. Preferencialmente estaciono a direito, sem muitas manobras. De tal modo que quase que pensei que me tinham tirado uma foto a mim própria. Depois porque brincaram com uma coisa que toda a vida ouvi: as mulheres conduzem mal e que nunca levei a mal, apesar de ser mulher e mesmo quando não conduzia. Por fim… é humor, minha gente. Humor! E eu já disse aqui várias vezes que se pode brincar com tudo – do cancro aos estereótipos, das coisas boas e das coisas más, das crianças aos velhos. Temos de saber rir, acima de tudo porque a vida não pode nem deve ser levada demasiado a sério (até porque nem sequer saímos dela com vida).

Estamos a cair no exagero do politicamente correcto. Estamos a criar uma geração de enxofrados, de flores de estufa que não sabem rir de si próprios, que se ofendem por tudo e por nada. Hoje tudo é bullying, incorreto, ofensivo, machismo, intolerante. Antes de se escrever ou dizer qualquer coisa temos de fazer estudos de mercado, análises, sondagens e, mesmo assim, corremos o risco de alguma alma se sentir ofendida.

Não se atira o pau ao gato porque é violência. Não se brinca com as loiras porque é um estereótipo. Ai de quem contar uma anedota sobre ciganos, deficientes, alentejanos ou pretos

(alguma vez ouviram um preto a contar anedotas de pretos? Eu já. E muitos dos meus amigos de faculdade também. Porque aquele jovem brinca, e muito, com isso. É uma pessoa resolvida, sem complexos, coisa que falta a muita gente)

Será que a humanidade (ou pelo menos boa parte dela) perdeu a capacidade de se rir de si própria e só quer rir dos outros? Se assim é, desculpem, mas perderam também esse direito. Ninguém, mas mesmo ninguém, tem o direito de se rir dos outros se não souber, primeiro, rir-se de si própria. No dia em que isso acontecer, certamente que deixaremos de ser tão politicamente correctos, tão aborrecidos com tudo e o mundo tornar-se-á um lugar muito melhor.

Experimentem. Vão ver que não dói nada.

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3 comentários

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sarabudja a 09.03.2017

Concordo contigo no aspecto em que nos rimos pouco de nós mesmos, tendemos a criar uma geração de florzinhas de estufa de indignados de meia tigela.
Também lá por casa se contam muitas anedotas de pretos, na primeira pessoa. Ou de pessoas baixas...
Discordo quando assumes que o que João Braga disse se pode catalogar de humor. Se é preciso processar? Não, não me parece. Mas não gostei nadinha. Porque vivo as palermices de me cruzar com os Bragas desta vida e de saber que às vezes não mata, mas são tantas as vezes que também mói. Ah ok é desvalorizar e ignorar, caramba! Quem não se sente, não é filho de boa gente. E os meus pais são muito boas pessoas. Às vezes é preciso saber por as pessoas no lugar. Sem grandes espalhafato, sem claque de apoio. Mas é. 


Estamos a passar por um momento delicado na família e se há coisa em que me refugio é no humor. Faço da dor o mote para algumas piadas que deixam alguns embaraçados, mas o ar fica menos denso, mais respirável.
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Magda L Pais a 09.03.2017

"o ar fica menos denso, mais respirável!"

é exactamente isto! o humor ajuda a respirar melhor, desentope o nariz, deixa-nos encarar com mais facilidade as dores que sentimos. No velório da minha avó chorei de tanto rir por nos lembrarmos das manias delas, da nossa matraca. Foi tão melhor do que chorar a morte.
Quanto ao João Braga, sabes que acho a ofensa poderá estar no facto de ter dito que os oscares eram só para os pretos e gays e não por falar em pretos e gays. Mas mesmo assim ganhou - de certeza - a proporçao que ganhou porque as virgens ofendidas estavam prontinhas para isso. Se não tivessem falado tanto, o assunto morria ali e pronto.
Gosto de ti, já te disse? e se já gostava, agora que me dizes que tambem ai contam anedotas de pretos e baixos, ainda gosto mais. Porque mostras precisamente aquilo que eu digo - sabem rir de vocês e só assim se podem rir dos outros
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sarabudja a 09.03.2017

Nunca mo havias dito. 


Gozamos muito com tudo. Não toleramos faltas de respeito ao individuo. 
Sabes aquela anedota do preto que chama o elevador no botão da camisa? O E. conta muitas vezes como sendo ele e um irmão.  É muito bem resolvido. A melanina não o define. O sítio onde nasceu e cresceu, sim. O que viveu também fez dele o que é. 
O meu pai disse-nos incontáveis vezes que tivemos muita sorte por termos sido criados como "gente". Se tivéssemos sido postos em galinheiros só não conseguiríamos por ovos, mas cacarejaríamos.  
O amor salva-nos e o humor é forma de amor. 

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