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o que aprendemos este fim de semana...

por Magda L Pais, em 19.06.17

Não vale a pena bater mais no ceguinho, já todos sabemos que morreram 62 pessoas, parte delas numa estrada. O que se calhar ainda não se percebeu foi que:

André Villas-Boas deu 10 euros por cada like numa foto que colocou no Instagram. Se podia ter dado o mesmo dinheiro sem o like? Podia. Mas a foto onde era necessário colocar o like tinha o NIB/IBAN da conta solidária aberta pela CGD e foi, creio, uma forma de chamar a atenção para esse mesmo NIB. Cem mil euros foi quanto André Villas-Boas doou para a dita conta solidária. Ainda assim "jornalistas" e alguns comuns mortais criticaram porque podia ter dado mais. Podia. Mas deu o que quis, não era obrigado a tal. Cada um dá o que quer (e, verdade seja dita, ainda não ouvi que outros ditos "grandes" do futebol tenham dado um cêntimo que fosse para esta ou outra conta. Ah e golos num jogo de futebol não vão ajudar ninguém).

Judite de Sousa e a TVI esquecem depressa. Desconfio que comem queijo a mais ou drogam-se com a seringa das farturas. Caramba, ontem vi várias reportagens em vários canais portugueses (SIC, SIC Noticias, RTP, RTP3) e nenhuma foi de tão mau gosto e demonstrou tanta falta de respeito como a que Judite de Sousa fez junto a um cadáver ou empoleirada num reboque. E perguntar a quem estava a rebocar os carros quantos corpos já tinham sido tirados, além de ser mórbido, não é informação relevante ou necessária. Curioso é que, quando morreu o filho de Judite de Sousa, foi pedido, pela TVI, respeito pela dor de uma mãe. Onde ficou esse respeito ontem?...é que presumo que a TVI e Judite de Sousa saibam que aquela senhora que faleceu tinha mãe, tinha filhos, tinha família.

Diz o roto ao nu porque não te vestes tu parece ser o lema da CMTV ao criticar a TVI e Judite de Sousa pela reportagem junto ao cadáver. Esquecem-se das vezes que foram eles próprios que o fizeram, e do drama, o horror, a novela mexicana que são as suas reportagens em locais de tragédia, com muita pouca informação. Não vi este canal ontem (tal como não vejo os telejornais da TVI, recuso a compactuar com exploradores da desgraça alheia) mas nem quero imaginar quão mau deve ter sido.

Não vale a pena ver a data da noticia. Se fala de incêndio e de ajuda que vem do estrangeiro, vamos lá partilhar. Não interessa se os aviões vão chegar a 12 ou 13 de Agosto, interessa partilhar. Não interessa que seja em Agosto de 2016, importa é partilhar.

Façam o que vos peço, não façam o que eu faço. A Caritas está comprometida com a solidariedade entre todas as pessoas, mas, em particular, com os pobres, fomentando a partilha fraterna de bens. Por isso, afirma que a solidariedade é a perseverante determinação em trabalhar para o Bem-Comum. Mas com o dinheiro dos outros. Porque o nosso é mais bem empregue nas nossas contas bancárias. Digo isto porque a Caritas, que tem milhares de euros no banco, ajudou com duzentos mil euros. André Villas Boas, um particular que treina equipas de futebol, deu metade desse valor. Percebem a diferença? A Gulbenkian criou um fundo de quinhentos mil euros. Diferenças...

De médico e de louco todos temos um pouco. E de bombeiros e estudiosos de fogos e fenómenos naturais também. Todos (ou quase todos, vá, sejamos honestos), partilharam a sua opinião sobre o que fazer, como fazer e, acima de tudo, o que os bombeiros, no terreno, em condições que ninguém imagina, fizeram mal. Se sabem tanto sobre isto, o quartel de bombeiros mais perto da vossa casa de certeza que aceita voluntários. Ide oferecer os vossos préstimos mas deixem de criticar quem o faz o melhor que pode e sabe.

Depois de casa roubada, trancas à porta. Agora todos sabemos que aquela estrada era a pior opção para os automobilistas. Mas acham mesmo que a GNR, quando os encaminhou para lá, sabia disso? calculam a angústia de quem deu essa instrução ao se aperceber do erro que pode ter cometido? não critiquem tão levemente, não estavam no terreno, não sabem quais os factores que levaram a essa decisão. Só quem lá estava o pode dizer.

Vocês são os peritos mas eu é que sei. O mapa das descargas eléctricas (ou trovoadas secas) não mente. A Judiciária e o IPMA não tem interesse algum em dizer o contrário. Então porque é que se continua a dizer que o fogo foi posto? Não ouviram os trovões? pois, mas que eu saiba o perigo não está no trovão mas sim no relâmpago (que é silencioso). Querem que haja culpados? pois sim, culpem os donos dos terrenos que não os limpam (limpar não é lucrativo, plantar eucaliptos sim). Culpem os donos das casas que não limpam nem a entrada da porta quanto mais os quintais. Culpem o Estado por não multar o suficiente para os obrigar a limpar. Sim, porque a maioria da nossa floresta pertence a particulares e não ao Estado... mas isso já não interessa dizer.

Devia haver um quartel de bombeiros em cada esquina. O ideal mesmo era um bombeiro por cada casa. Sim, porque apesar de estarem mais de oitocentos bombeiros a combater o incêndio, há imensas queixas que não estiveram em todo o lado. Que eu saiba (mas posso estar enganada) a única entidade omnipresente é Deus. Bombeiros não são omnipresentes e não conseguem estar em todo o lado.

Rosas brancas e não velas. Pensem lá comigo. Partilhar velas acesas com a frase (ou variantes da mesma frase): Vamos manter a chama acesa por quem morreu no incêndio é mórbido e de mau gosto. Ou então uma variante de humor negro (mesmo que seja partilhado por quem tanto critica o humor negro). Usem uma rosa branca ou outra flor qualquer... chamas para mortos em incêndio é que me parece, no mínimo, estranho (até a mim que adoro humor negro...)

Enfim, deixem-me, por fim, partilhar que tenho amigos na Sertã, que ontem estiveram ameaçados pelas chamas. Que no sábado viram o que aconteceu e o que me transmitem é que, até cerca das 18h o incêndio era apenas mais um. Umas chamas aqui e ali, nada de extraordinário. E que, em segundos, por causa dos ventos ciclónicos que se levantaram, um pequeno incêndio tornou-se o inferno na terra. Não consigo imaginar a aflição de quem lá vive, não consigo imaginar a sensação de impotência dos bombeiros, não consigo imaginar o que faria se lá estivesse. Por respeito aos bombeiros, a quem perdeu a vida e por quem perdeu familiares e amigos, penso que o silêncio é uma casa cheia neste momento. O meu silêncio e o silêncio de quem não tem nada de positivo para dizer.

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1 comentário

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Pandora a 19.06.2017

Uma vez mais, mente brilhante, sensata e inteligente. No meio desta tragédia ímpar e de tantos abutres em seu redor, as tuas palavras são uma esperança de que ainda há vida inteligente. 
Eu estou em silêncio. Transtornada e sem palavras. Os incêndios são um fenómeno que me afligem particularmente. Com esta dimensão e perdas associadas, deixa-me num profundo silêncio e angústia.

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