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Pais maus

por Magda L Pais, em 07.10.15

Ser pai ou mãe não é ensinado nos livros. As crianças não trazem manual de instruções e não há uma fórmula de sucesso. Poderia haver se as crianças fossem todas iguais, sem diferenças de personalidade. Sendo que é o oposto que se verifica, que cada criança é única, na sua forma de ser e estar, então também ser mãe ou pai é também uma experiência única, que depende, em grande parte, da forma como a criança reage às atitudes dos seus progenitores. Se isto é verdade, e eu acredito que sim, também é verdade que há formas de agir mais ou menos correctas para se educar um filho.

Regras e disciplina. Duas palavras que assustam muitos pais e que poucos, hoje em dia, impõem aos seus filhos. Esquecem-se, provavelmente, que foi pela obrigação do cumprimento de regras e disciplina pelos seus próprios pais que hoje são adultos responsáveis. As crianças não gostam, é óbvio. Mas precisam que alguém as imponha para que se tornem adultos. Também não é preciso exagerar. E claro que, de vez em quando, se podem quebrar as regras. Bom senso é preciso.
Regra e disciplina fazem parte da boa educação que se pode dar a um filho. E não podemos, como muitos pais fazem, delegar a educação dum filho na escola. As escolas devem funcionar como complemento à educação dos pais e não como substituto. A escola deve servir para ensinar, os pais para educar. Tenho visto, porque faço questão de ser uma mãe presente na escola dos meus filhos, verdadeiras barbaridades ditas por pais que não mereciam esse nome. Desde uma mãe que se manifestou contra o seu filho ajudar na arrumação da sala de aula porque “o meu filho é um rapaz e os rapazes não têm de arrumar a casa”; a outra que acha despropositado o uso das palavras “obrigado” e “se faz favor” em crianças pequenas; um pai que, quando informado que o filho tinha batido num colega que respondeu “vocês sabem que ele é assim, tenham mais mão nele que eu não tenho”; e tantos outros casos que poderia aqui contar.
Sinceramente, e por amor aos meus filhos, prefiro ser uma mãe má a ser uma boa amiga. Amigos vão eles ter ao longo da vida e não vão ser os amigos que os vão educar. E também não será a escola que os vai educar. Contribuir para que os nossos filhos sejam adultos responsáveis, competentes, honestos e educados é a função principal dos pais. Que está esquecida por uma geração de pais, o que coloca em risco a sociedade como a conhecemos.
 
Crónica escrita em 2009 a propósito do texto abaixo, da autoria de Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra

Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei-de dizer-lhes:
Eu amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
Eu amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
Eu amei-vos o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tiramos isto ontem e queríamos pagar”.
Eu amei-vos o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
Eu amei-vos o suficiente para vos deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
Eu amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque, no final, vocês venceram também! E, qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se os seus pais eram maus, os meus filhos vão lhes dizer:
“Sim, os nossos pais eram maus. Eram os piores do mundo...As outras crianças comiam doces no café e nós só tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes ao almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Nossos pais tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistiam que lhes disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nossos pais insistiam sempre connosco para que lhes disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata! Nossos pais não deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para que os nossos pais os conhecessem. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelo menos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam para saber se a festa foi boa (só para verem como estávamos ao voltar). Por causa dos nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em actos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa dos nossos pais! Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “pais maus”, como eles foram”
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há pais maus suficientes!

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12 comentários

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Life Inc a 07.10.2015

Muito bom Magda! Parabéns pelo destaque!

xoxo
cindy
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Anónimo a 07.10.2015

Gostei Imenso!!
Sou mãe, tenho dois filhos, ás vezes fico triste por eles me dizerem que eu sou a pior mãe do mundo, que não sou igual às mães dos amigos deles. Como mãe tento-lhes fazer entender que não podem fazer o que querem têm que assumir  responsabilidades dos seu atos.
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Magda L Pais a 07.10.2015

Obrigado pela visita e pelo testemunho. Ser mãe é ser isso mesmo. E parece um cliché mas a verdade é que só quando eles forem pais é que vão entender que a mãe os educou como deve ser
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Anónimo a 07.10.2015

Sou pai de 3 crianças e faço questão de ser dois pais: um pai mau e um pai bom.
Quando é para ralhar, ralho a sério. Dizem-me que sou mau e eu respondo "sim, sou muito mau".
Quando é para brincar, brinco a sério. São gargalhadas pegadas e agarram-se a mim em abraços fortes e mimos de nos levar aos maiores sentimentos de felicidade.
A minha experiência como pai diz-me que por muito eu ralhe, desde que seja justo, isso não influencia os bons momentos e um sentimento de felicidade para comigo.
E tenho a convicção que castigar o mau comportamento e elogiar o bom comportamento é a melhor forma que tenho para educar as minhas crianças.
JB
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Magda L Pais a 07.10.2015

então somos dois!
se quiseres ter esse trabalho, consultando a tag filhos, ali ao lado, vais ver várias situações em que as brincadeiras, o humor, as gargalhadas, imperaram lá em casa. Eles sabem, ambos, que, para brincar e gargalhar contam comigo (e também sabem que depois partilho as situações mais engraçadas). Assim como sabem que eu escolho as "batalhas" - deixo-os ganhar umas e, em contrapartida, ganho eu outras - escolho criteriosamente as mais importantes e dessas não abro mão. Sou má mãe (aliás, somos maus pais) em alguns casos e bons em outros. O equilíbrio é a melhor receita de sucesso
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Marlene Diogo a 07.10.2015

Adorei,como se costuma dizer, quem dá pão dá educação e às vezes eu questiono-me "serei boa mãe?" mas depois quando vejo os meus filhos a querer ajudar quem precisa, a pedir e agradecer com educação, a confessar quando por algum motivo fizeram algo de errado, penso, acho que sim, estou no bom caminho...
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Magda L Pais a 07.10.2015

Parabéns então. Ter filhos assim não tem preço e vale a pena.
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Vanessa a 07.10.2015

Que bom texto, Magda merece mesmo o grande destaque! (ai, marota )


Eu vim da geração em que os pais assentavam a mão sempre que fazíamos algo mal, nunca vi nisso um mal assim tão grande, aliás, aprendi que se repetisse aquilo era errado e ia apanhar, ia-me doer e ia aprender a não fazê-lo de novo. Hoje em dia, um pai que assente a mão num filho, pode vê-los a ser retirados por "violência doméstica" (wtf?) ou a levar um troco do filho. Sinceramente, não sei que tipo de mãe serei, mas conhecendo-me como me conheço, é provável que se os meus filhos me fizerem passar da cabeça, tenha uma conversa verdadeiramente séria com eles, hei-de castigá-los, tentando ao máximo não lhes assentar a mão, mas caso seja necessário, vão mesmo levá-las. Não suporto faltas de educação e tenho aturado putos de 5/6 anos a mandar bocas e respostas tortas que a minha única vontade é cravar-lhes uma valente no focinho.


Os pais de hoje em dia não têm tempo para educar os filhos, por isso esperam que as escolas o façam e confundem a educação (sabedoria e ensinamentos) com a educação (valores, modos, etc). Se calhar, esses pais de hoje em dia, foram aqueles que apanharam, porque tiveram mesmo motivos para isso, não gostaram e agora tentam dar aos filhos algo melhor que eles não tiveram (na ideia deles).
É como uma criança até aos 5 anos, vá, dizer aos pais eu não gosto disso e os pais fazem-lhes a vontade, no que toca à comida e aos bens materiais (roupa, etc). Desde quando é que um pirralho daqueles tem de gostar ou não de alguma coisa e manda alguma coisa? Eu vejo a minha sobrinha de 1ano e meio a dizer que não quer um babete e os pais vão-lhe dar outros à escolha até ela saber qual quer. Isto para mim não faz sentido, mas pronto, lá sabem.


Outra coisa que não acho que faça sentido é uma criança de 10 anos ou menos ter um telemóvel. Porque raio é que se coloca isso nas mãos de uma criança para ela usar a seu belo proveito, como quer e bem lhe apetece?  Image
Eu tive um, acuso-me, com 10 anos porque fui estudar para longe de casa, tinha de ir de autocarro para uma terra a 8km da minha e se estivesse doente teria de falar com os meus pais para me irem buscar ou se quisesse falar com eles era mais fácil, porque não nos deixavam ligar aos nossos pais quando quiséssemos, mas todos os dias chegava a casa, dava o telemóvel aos meus pais e só no outro dia de manhã é que o ligava e levava para a escola. Hoje em dia isso acontece? pfff não, até é uma revolta se lhe tiram aquilo das mãos. Compreendo que na minha altura as tecnologias eram poucas, pouco avançadas e a internet ainda era daquela que se ligava ao telefone e fazia barulhos estranhos quando lhe mexíamos, mas agora? Têm acesso a tudo, em todo o lado e os pais ainda se espantam quando acontece algo de mal.


Olha outra, Magda, meninas de 10 - 13 anos que têm blogs no SAPO sobre a Violeta e não podem ter facebook, porque os pais não querem. Mas autorização que tenham um blog? Não vai dar ao mesmo? LOL
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Magda L Pais a 07.10.2015

Eu sou assim (com o destaque :P e logo dos gordos)


isso do babete nem me faz confusão. Sabes que eu acho que há coisas que vale a pena nos impormos e outras que nem por isso. Nós, pais, não podemos ter só exigências, há que ceder de vez em quando. Se o fizermos, se, de vez em quando - e nas coisas mais simples - cedermos, temos mais chance de mostrar aos filhos o quão é importante não contestarem quando exigimos.


quanto ao resto, dou-te toda a razão, sem dúvida. Vejo com cada disparate que nos valha santa iria
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Rute Justino a 15.10.2015

Como é que eu não tinha lido este post, adorei..
100% de acordo em tudo!!
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Magda L Pais a 15.10.2015

Ora, acontece! :D Ainda bem que gostaste

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