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O tempo perguntou ao tempo

por Magda L Pais, em 05.11.18

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O tempo perguntou ao tempo

quanto tempo o tempo tem!

o tempo respondeu ao tempo

que o tempo tem tanto tempo

quanto tempo o tempo tem.

 

O tempo tem graça. Tão depressa passa por nós sem darmos conta, assim num instantinho, como demora um tempo desgraçado a passar.

Ainda ontem, ia jurar que tinha sido ontem ou, vá lá, no máximo anteontem, estava na maternidade, prontinha para o parto da minha filha mais velha. Prontinha prontinha não, que uma coisa era querer que a gaiata nascesse e outra era não quer que usassem agulhas para me meterem o soro e/ou a anestesia…

Mas dizia eu (a ver se não me distraio de novo) que a minha Maggie nasceu ontem. Ou anteontem, no máximo dos máximos. Passou um instantinho e… bem, e já está no décimo segundo ano, e estamos a iniciar os trâmites necessários para que ela cumpra o seu desejo: ir estudar em Inglaterra. Nasceu ontem e amanhã está na Universidade. Porque não se iludam. Pode parecer que falta um ano mas vai ser outro instantinho.

Pensando melhor…

Se calhar foi mesmo anteontem que a Maggie nasceu já que o Martim, o meu filho mais novo, nasceu ontem. Sim, é exactamente assim. Primeiro a Maggie, anteontem, depois o Martim, ontem. Mas é que ele já está no décimo ano… como é possível que tenham passado tantos anos em apenas algumas horas? Não sei como, mas a realidade é que passaram.

Diz que a Inominável faz 3 anos. Como 3 anos? Já se passaram 13140 dias desde que recebi um email da Alface a dizer que tinha tido uma ideia idiota? Como pode ter passado tanto tempo e eu nem sequer me apercebi. É verdade que acabei por ter de sair do projecto, com muita pena minha (mas os meus dias ainda não começaram a ter mais horas, que isso sim era de valor) mas três anos?... não pode mesmo ser.

Ainda agora eu só lia. Muito, lia muito, lia e guardava as opiniões para mim. E, de repente, assim, sem dar por isso… já se passaram quase 11 anos desde que alguém me criou o meu primeiro blog (na Blogspot, depois eu é que o mudei para o Sapo) e, vejam só, já fez três anos que nasceu o meu blog destinado exclusivamente ao meu passatempo preferido, a leitura.

O tempo… esse malandro que passa num instante, sem darmos por ele. Mas que, noutras alturas em que queríamos que ele passasse mais depressa, demora mais tempo do que desejamos, já que só queríamos que doesse menos.

 

Mas por mais que a vida

Não cure as feridas

O tempo irá curar por si

 

(retirado da música O Tempo de Marco Rodrigues)

Passaram-se três anos desde que o meu pai teve o AVC que viria a mudar a sua vida. Para pior. Cada dia que passa – e estes dias passam tão devagar – noto o meu pai mais debilitado, a precisar de mais ajuda. As idas quase constantes aos médicos, às urgências dos hospitais, à terapia, ajudam mas o tempo, esse que deveria ajudar a curar, não está pelos ajustes e, em vez disso, traz mais e mais problemas.

Os meus avós maternos, os meus segundos pais, aqueles cuja história de amor me abriu o caminho da escrita (e eu que achava que só gostava de ler) já morreram. Ele há quase 16 anos, ela há coisa de dez anos. Confesso, não sei há quanto tempo morreram. É um tempo que não passa. Já não dói tanto como doía inicialmente mas posso dizer-vos que, no dia a seguir, já eles tinham morrido há tempo a mais do que aquele que eu gostaria. E o mesmo com a minha tia, aquela que me viu nascer e com quem estive, no hospital, até ao último momento da vida dela. Ainda não tinha sido o funeral e eu já pensava que a minha tia tinha morrido há demasiado tempo.

O tempo. O tempo que passa, que cura as feridas, que nos faz velhos enquanto vemos os filhos a crescer. E assim, sem dar tempo ao tempo, já passou demasiado tempo desde que comecei a escrever esta crónica, sendo mais que tempo de a acabar para esta edição que comemora aquele que espero seja o terceiro aniversário de muitos que ainda estão para vir.

(texto escrito para a última edição da Revista Inominável)

May we meet again

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