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Desafio da escrita dos Pássaros #5

Estás na fila para o purgatório e Hitler está à tua frente. Ninguém o quer aceitar e a fila não anda

por Magda L Pais, em 11.10.19

Acordei morta. E como é que sei? Bem, dei comigo num cais, com uma fila enoooorrrmeeeee à minha frente. Ao fundo duas barcas, uma mais enfeitada e com muita gente e outra assim meio feeinha, com um anjo na proa. Lembrei-me logo que tinha lido sobre isto. Afinal Gil Vicente tinha razão. Ali estavam a Barca do Inferno e a Barca da Glória. Mas onde andavam o Diabo e o Anjo? Ouvia-se um grande burburinho entre as barcas mas nada de gente a avançar nem para um lado nem para o outro. A curiosidade aguçou e lá fui eu furando a fila até chegar à frente.

- Este bigodes vai contigo. Não o quero lá a conspurcar as minhas vítimas. Ai desculpa, este termo não é correcto, ainda me aparece p’ra ai algum nazi do politicamente correcto! As minhas almas. Não o quero a conspurcar as minhas almas!

- Mas o quê? Achas que, com o que ele fez, tem lugar no céu? Nem penses, coitadas das minhas almas que tiveram de o aturar em vida e ainda tem de levar com ele na morte? Mas é que nem morto o deixo passar.

- Mas nem morto como se já estás morto? Tu ouves os disparates que estás para ai a dizer?

 - … Nem vivo! Nem vivo o deixo passar.

- Aber entscheidest du dich? ist, dass sie seit 74 Jahren in diesem gewesen sind ... (que é como quem diz: mas vocês decidem-se? é que já estão nisto há 74 anos...)

Tive de intervir.

- Olhem, desculpem lá, se entre vós não se entendem, e ainda que não tenha nada a ver com isto, não querem chamar Ammut para cá vir?

- Ammut? Mas porque é haveríamos de ir buscar um fulano doutro panteão para resolver a nossa contenta?

- Sim, sim, não queremos cá estranhos. Ou vai com ele ou vai com ele!

- Certo. Mas já viram bem a fila de almas que está à espera da vossa decisão? É que é suposto isto andar e não estarmos aqui parados. A malta tá morta, tem todo o tempo do morto para estar morto mas já agora que não fiquem sempre no mesmo sítio senão ainda ganham raízes. E não me consta que, aqui no purgatório, precisem de árvores…

- És capaz de ter alguma razão. E então é como é que isso funciona? Achas que é só chamá-la que ela vem?

- Não querem mais nada, não? O rabinho lavado com água das malvas, talvez? Estou a dar-vos a solução, agora como é que chegam a ela, é convosco. Pela minha parte tenho a certeza que o coração do bigodes pesa mais do que uma pena de avestruz pelo que vai ser devorado por Ammut. Agora os detalhes é convosco. Não é suposto serem vocês a gerir aqui o estaminé? Então trabalhem!

 

May we meet again

Texto de participação no desafio de escrita dos Pássaros

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