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Já vos disse aqui o quanto gostei de ler o livro Orgulho Asteca. De facto, é um livro fabuloso e com várias passagens que podiam ser passadas para os dias de hoje. Hoje vou falar numa dessas partes, de que me recordei imenso ontem ao fim do dia.
A personagem principal do livro, Mixtli, tem a oportunidade de viajar pelo antigo México e leva-nos a conhecer algumas das tribos que viveram, na mesma altura, que os Astecas. Uma delas eram os Chachapoya ou Povo Nuvem. Este povo tinha fama de ser alto, belo e de pele clara, ao contrário das restantes tribos, pelo que também eram chamados do Povo Belo. Diziam eles que descendiam directamente dos Deuses e que tinham sido deixados na terra através das nuvens (daí o nome de Povo Nuvem).
Os estrangeiros que visitavam esta tribo ficavam admirados por não encontrarem velhos enrugados, pessoas ou crianças feias ou com qualquer deformidade. No livro, Mixtli questiona uma pessoa dessa tribo sobre isso e a explicação que lhe é dada é muito simples:
Os velhos, quando começam a sentir que estão a ficar feios, despedem-se da família e vão para o Lar dos Sonhos. Esse lar é um conjunto de salas labirínticas e interligadas numa montanha por perto. Os velhos, quando lá chegam, procuram uma sala onde se sintam confortáveis e depois sentam-se – sem água ou alimentos – e esperam que a morte chegue.
Os bebés, quando nascem, se forem feios ou tiverem alguma deformidade, não são alimentados até que os Deuses decidam que chegou a hora deles morrerem.
E é assim que o povo Nuvem consegue manter a fama de ser belo. Os membros da tribo eram aceites, ou não, consoante o seu aspecto físico.
Apesar de isto estar num livro, uma boa parte desta história sobre os Chachapoya é a realidade. Ou era a realidade em meados do século XV.
Hoje, em pleno século XXI poderíamos pensar que já não seria assim. Queríamos acreditar, todos, que, em 2015, o aspecto físico (cara e corpo) seria relegado para segundo plano e que a personalidade da pessoa seria mais importante.
Ou então não…
E digo que não porquê? Porque ainda há quem avalie os outros pelo rosto e se esqueça que há mais numa pessoa Para lá do rosto e do corpo. Ainda ontem vi, num blog (já foi apagado o texto) uma jovem dizer que não queria outro para amigo porque tinha uma cara feia… Só faltou dizer que o melhor seria não o alimentar para que os Deuses o matassem, tal como os Chachapoya faziam…
Mas não é caso único… Quantos já sentiram que o seu aspecto físico ditou o comportamento dos outros para consigo, seja nas amizades (ou na falta delas), numa entrevista de emprego ou na escola?
Será que, em cinco séculos o ser humano não evoluiu?
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