Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]


Crepe com açúcar e canela

por Magda L Pais, em 26.08.19

Fomos dar um passeio no fim de semana. Pelo meio fomos a um café que tinha crepes. Sou fã de crepes, aqueles simples, apenas com açúcar e canela. E foi exactamente isso que pedi. Um crepe com açúcar e canela.

O rapaz que estava a atender olhou para mim com um ar muito espantado, como se eu tivesse acabado de pedir uma fatia da Lua ou um anel de Saturno, olhou para a registadora, pegou na ementa e disse-me:

Crepes só com chantilly e gelado ou então com nutella. 

Olhei em volta... vi ali ao lado o açúcar e a canela prontinhos para temperar um pastel de nata e pensei... Nã, não me vou dar ao trabalho. Amanhã faço em casa e pronto.

Faz-me confusão esta falta de ginástica mental. Esta incapacidade de olhar à volta, de só se ver o que se tem em frente. Faz-me espécie que se siga um guião, que não se pense. 

Sim, era só um crepe. Mas como não estava na ementa nem na registadora, o rapaz não percebeu que tinha ali todos os ingredientes para atender a cliente. Era só um crepe mas podia ser uma pergunta diferente, uma situação anómala para a qual não há uma regra escrita.

Era só um crepe... mas - a menos que sejamos uma máquina - vamos ter, ao longo de toda a nossa vida situações anómalas, sem regras, onde precisamos de juntar os pontos, descobrir uma solução para depois seguir em frente, sem esperar que outros nos digam o que fazer. Afinal, a vida é nossa e as decisões também devem ser nossas.

Só assim se vive e não se sobrevive.

 

May we meet again

Conheces o desafio de escrita dos Pássaros?

Já nomeaste os teus blogs favoritos para os Sapos do Ano 2019?

 Que esperam para me acompanhar no facebook e no instagram?

Conhecem o meu blog sobre livros?

Autoria e outros dados (tags, etc)


23 comentários

Imagem de perfil

Happy a 26.08.2019

É o que costumo dizer, agora as pessoas estão formatadas. Se precisas de algo diferente, não o consegues, porque o pensar fora da caixa não é já para todos!
Imagem de perfil

Magda L Pais a 26.08.2019

Exactamente isso. Pensar fora da caixa, raciocinar. Usar o cérebro. É difícil mas, ao mesmo tempo, gratificante 
Imagem de perfil

Sofia a 05.09.2019

Concordo contigo, Happy!
Imagem de perfil

Sarin a 26.08.2019

Tenho falado nisso recorrentemente. E, sem saber a que café foste, ou onde, posso dizer-te que aconteceria o mesmo em qualquer café do país onde os empregados não tenham autonomia. Talvez não tivesse também ginástica mental, como referes, mas a gestão está muito vocacionada para a automatização onde não há automação. Definem-se as regras e fora disso nada mais há.
Imagem de perfil

Magda L Pais a 26.08.2019

A questão é que esta falta de ginástica mental se vê em todas as áreas, não é apenas na restauração. é muito mais fácil esperar pelas decisões dos outros do que pensar sozinho
Imagem de perfil

Sarin a 26.08.2019

Mas é aí que quero chegar: nos últimos 25 anos o modelo de gestão passou pela definição de tarefas quase ao milímetro, deixando pouca decisão ao funcionário. Então na restauração, com a segurança alimentar de um lado e as grandes cadeias do outro, a coisa foi definida quase ao nível da grossura do fiambre ou da dose de chantilly a colocar no crepe, "mais um bocadinho" equivale a "cobertura suplementar cf tabela".


Claro que a incapacidade pode ser idiossincrasia do funcionário - mas o modelo de gestão fomentou, na maior parte dos casos, esta inadaptabilidade, esta falta de autonomia.
Imagem de perfil

Magda L Pais a 26.08.2019

A questão é que se vê esta falta de ginástica mental em todas as áreas e não apenas na profissional. No dia a dia, em coisas básicas, acontece exactamente o mesmo
Imagem de perfil

Sarin a 26.08.2019

É a falta de estímulo acrescida da ausência de vontade. 
Imagem de perfil

Magda L Pais a 26.08.2019

Sim, isso concordo em absoluto 
Imagem de perfil

Inês Norton a 27.08.2019

Oh my God nesses sítios costuma haver uma opção de crepes simples não acredito que não tivessem o preço, e se fosse isso até podiam cobrar mais mas realmente tendo o material ficarem como " boi a olhar para um palácio"
Imagem de perfil

Magda L Pais a 28.08.2019

pelos vistos ali não havia essa modalidade... e nem o homem conseguiu lá chegar sozinho
Sem imagem de perfil

O Coiso a 28.08.2019

Ai ai... fosse meu empregado e eu visse isso, chamava-o a um canto, dava-lhe uma rabecada de todo o tamanho, dizia-te que um crêpe "à sua escolha" é mais caro e não te cobrava pela estupidez desta vez mas prá próxima levavas com o preço de um crepe com gelado...
Imagem de perfil

Magda L Pais a 28.08.2019

eu até pagaria um crepe mais caro se ele me dissesse: olhe, eu faço-lhe o crepe mas como não tenho essa modalidade, terei de lhe cobrar o que tem gelado que é mais caro. e até ai tudo bem. Mas o idiota perdeu ali uma oportunidade de vendas
Sem imagem de perfil

Inês a 05.09.2019

E quando vamos a uma pizzaria e queremos a pizza x sem ou com um determinado ingrediente e dizem que não pode ser? Enfim....
Imagem de perfil

Magda L Pais a 05.09.2019

Exacto! É a mesma coisa. Não faz sentido
Imagem de perfil

Maria Araújo a 05.09.2019

Dá muito trabalho pensar.
E devia perguntar ao dono ou quem está a gerir o café, mas também dá trabalho pensar como fazer a pergunta.
Imagem de perfil

Magda L Pais a 05.09.2019

Pensar é um exercício cada vez mais em desuso
Imagem de perfil

Pequeno caso sério a 06.09.2019

Haja pachorra...
O moço não te quis dar o crepe porque era totó (hoje estou meiguinha).
Pedias um crepe com chantilly mas com o chantilly num prato à parte ou então  dizias especificamente que não querias o chantilly por cima do crepe mas sim AO LADO.
Depois, à frente dele, agarravas na canela e no açúcar e punhas por cima do crepe.
A seguir comias com satisfação. 
Por fim, devolvias -lhe o prato, só com o chantilly intacto e dizias:
"Tome. É para si. Quer açúcar e canela ou prefere assim simples?"






Temos de ter  imaginação para lidar com a estupidez imprevista. Como? Pagando na mesma moeda.
Imagem de perfil

Ana a Abelha a 06.09.2019

viva! 
já trabalhei na restauração e, na verdade, sem autorização do gerente de loja não é viável ser mais criativo que o menu. só o chefe de serviço é que poderia decidir sobre algo que não está codificado.
beijinhos
Sem imagem de perfil

Anónimo a 06.09.2019

Há muitos anos, em Almodôvar, aconteceu-me algo semlhante. Pedi uma sandes mista e o empregado disse-me que não fazia. Vi dois clientes, um a comer uma sandes de fiambre, outro a comer uma de queijo e fiz o reparo.
Responde-me o senhor: Mas o patrão não está e eu não sei qto é que lhe devo levar pela sandes mista. Foi o meu primeiro contacto com o Alentejo profundo.
Imagem de perfil

Margarida a 06.09.2019

 Julgo que as pessoas já se desabituaram de pensar, dá muito trabalho.

Comentar post


Pág. 1/2



Mais sobre mim

foto do autor








Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.