layout - Gaffe
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Dizem que, quando morremos, vemos a nossa vida em flash. Laura, naqueles últimos minutos de vida, viu os seus últimos 25 anos, tentando perceber onde tinha errado.
Tinha sido amor à primeira vista. Assim que o viu, soube que era o amor da sua vida. E, nos primeiros anos, tinham sido felizes.
Seis anos depois, o primeiro estalo. Laura chamou-o a atenção – já nem se lembrava porquê – e ele deu-lhe um estalo. Da surpresa passou ao riso enquanto ele a abraçava e pedia desculpa. Passaram-se meses e Laura já tinha esquecido este estalo quando, depois de lhe pedir que não fizesse disparates, ele lhe deu um pontapé. Mas como ele a beijou logo de seguida, riu-se e perdoou.
Depois de quinze anos de vida em comum, Laura já estava a ficar habituada aos estalos, aos pontapés e aos murros. Mas como podia revoltar-se se ele era um bom rapaz e a abraçava e beijava logo a seguir, pedindo perdão?
E Laura perdoava. Como poderia ser diferente? Ele era o seu amor maior, a maior paixão que alguma vez tinha sentido.
Quando viu que ele tinha uma navalha, achou normal. Depois foi uma arma. E Laura achou normal. Afinal viviam numa zona problemática, ele saia muitas vezes à noite, sem que soubesse exactamente onde e com quem ia.
Quando ele começou a pedir-lhe dinheiro, Laura esforçou-se para lhe dar. Mesmo que isso significasse não comer ou não comprar os sapatos que precisava. Ele estava sempre em primeiro lugar – não é isso que fazemos por quem amamos, pensava Laura.
Quando o dinheiro acabou, as tareias a Laura aumentaram para a forçar a arranjar o dinheiro que ele precisava. Laura desconfiava que seria para drogas ou outras mulheres mas como lhe poderia fazer frente?
Enquanto morria e revia todas os estalos, pontapés ou facadas que tinha levado, Laura só pensava: e eu que te amei tanto, meu filho, porque me fizeste isto?
May we meet again
Texto de participação no desafio de escrita dos Pássaros
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