layout - Gaffe
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Ana sabia que aquele era o último dia que podiam estar na cabana. Acordou cedo para poder acabar de arrumar aquilo que queriam levar e, quando acabou sentou-se na mesa na cozinha.
Tinham sido tão felizes ali, naquela cabana ao pé do mar. Quando para lá foram mal tinham dinheiro para comer, quanto mais para a mobilar. Nos primeiros tempos dormiam no chão, embrulhados em cobertores velhos para não terem frio. Os banhos eram tomados “à gato” até porque nem tinham água canalizada. A roupa era lavada no tanque e as idas para o trabalho eram feitas a pé.
Aos poucos foram conseguindo, com muito esforço, fazer pequenas poupanças. Quando juntaram dinheiro suficiente para comprar o primeiro objecto para a casa, decidiram-se pelo mais improvável: um frigorífico. Afinal, já estavam habituados a dormir no chão, os cobertores, apesar de velhos, aqueciam. Só que não tinham onde guardar comida e o frigorífico era perfeito. Até podiam congelar algumas coisas.
E tudo se foi compondo, ao redor daquele frigorífico. A vida foi melhorando, foram comprando outras coisas para a casa. Uma mesa, cadeiras, sofá, a cama. Depois vieram os filhos e Anne sabia a felicidade era o amor, uma cabana e o seu frigorífico como testemunha de tudo.
Agora era tempo de mudarem. A cabana estava numa zona protegida e teria de ser demolida. Ana entendia essa decisão. Só queria ter tido mais tempo para se despedir do frigorífico que tanto a tinha apoiado nos primeiros tempos.
Quando ele voltou a entrar em casa, Ana estava abraçada ao frigorífico. Devagarinho, para não a assustar, chegou-se e abraçou os dois. Era o último dia em que os três estavam juntos.
May we meet again
Texto de participação no desafio de escrita dos Pássaros
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