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Desincentivo à leitura?

por Magda L Pais, em 16.09.15

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Segundo esta notícia, parece que as livrarias vão ser proibidas de fazer descontos superiores a 10% no preço dos livros editados ou importados há menos de 18 meses sendo também proibidas as opções "pague um, leve dois", "compre dois livros e leve grátis o de menor valor" ou qualquer outro desconto progressivo em função da quantidade de livros adquiridos. E mesmo nos casos em que seja permitido haver uma promoção, não pode ultrapassar os 25 dias em cada ano.

Confesso que me fica a dúvida qual é a intenção desta lei.

Comecemos pelos 25 dias permitidos para promoções. Ora as Feiras do Livro realizadas em todo o país são em alturas diferentes do ano e a soma das suas durações é, seguramente, superior a 25 dias. Logo, haverá Feiras do Livro com promoções e outras sem promoções porque foram ultrapassados os 25 dias. Faz sentido…

Por outro lado, os preços dos livros, em Portugal, já são quase proibitivos. E quanto mais recentes, mais caros. Poucas pessoas conseguem comprar constantemente livros a dezanove, vinte ou trinta euros. Muitas vezes aproveitam-se precisamente as promoções para se adquirir mais livros por menos dinheiro. Por exemplo, comprei, há umas semanas, dois livros na Wook. Um deles em pré lançamento, com um desconto de 15% e oferta doutro livro. Ficaram, os dois livros, a € 14,40 (na prática não paguei qualquer valor porque tinha um vale). Daqui a um mês isto deixa de ser possível…

Outra coisa que me faz confusão é a falta de liberdade do comerciante. Quando o comerciante faz um desconto, o custo desse desconto é dele, não do editor. Ora se o comerciante quer fazer um desconto ou fazer uma oferta como forma de vender mais… porque é que não o pode fazer?

É verdade que, todos os dias, vejo mais gente a ler nos transportes. Quando comecei a vir trabalhar para Lisboa e a andar nos transportes públicos era raro ver alguém com um livro. Hoje mais de metade das pessoas têm, nas mãos, um livro ou um ebook e estão a ler. E isto, acreditem, é positivo. Muito positivo.

Mas com medidas destas… quer-me parecer que desincentiva a compra de livros e, por arrasto, a sua leitura. Ou então incentiva-se o recurso ao mercado paralelo e a compra de livros em segunda mão para que as pessoas continuem a ler.

Resta saber qual terá sido o espírito desta lei idiota e sem sentido…

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54 comentários

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Just_Smile a 18.09.2015

Mas que raio de lei é essa? Será que já não consideram os livros caros? Quanto mais sem promoções!
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Magda L Pais a 18.09.2015

pelos vistos fazem parte daquele grupo de pessoas que não sabe o preço dos livros
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Andy Bloig a 18.09.2015

"Quando o comerciante faz um desconto, o custo desse desconto é dele, não do editor."
Devia ser... mas não é. A culpa? Um mecanismo simples que se chama vendas à comissão por unidade. 
É algo que a maioria das pessoas não sabe o que é (deves conhecer bem esse sistema, Magda)... mas, é simples de explicar, para quem não o conhece:
Livro custa 20 euros, preço de capa. Loja pode vender entre 18 a 20 euros ao cliente final. O preço para a editora, depende de quantos livros a loja vende. Se a loja vender 200 livros, paga 10 euros por cada livro. Portanto, 2000 euros para a editora. Se a loja vender 201 livros, paga 5 euros por cada livro. Portanto, 1005 euros para a editora. Se venderem 500 livros, pagam 2500 euros à editora... e tem um lucro (vou esquecer o IVA e outros descontos, que existem) de 7500 euros. 
Isto é o mercado actual. Por isso é que as grandes cadeias conseguem fazer ofertas "generosas" com os lançamentos e sessões especiais. 
A lei tem por objectivo acabar com estas diferenças. Passando a existir um valor que deverá ser igual para uma grande cadeia e uma pequena livraria. E a editora pode aumentar o preço unitário, conseguindo mais lucros. (é daqui que a APEL apoia a medida) 
Claro que quem vai pagar... somos nós, clientes finais. Porque a editora poderá ganhar mais, se venderem mais livros. Se os leitores começarem a esperar para comprar só depois dos 18 meses, os editores tem uma outra arma que podem usar: Nova edição a cada 12 meses. (sendo que a anterior é recolhida e só é distribuída na altura das feiras ou promoções ou são livros oferecidos nos sites das editoras com a compra de outros, mais antigos) 


Por outro lado, é muito interessante a publicação desta lei ter sido feita agora. É que meados de Outubro, princípio de Novembro, é a última altura onde eram feitos aqueles descontos de 50%, que uma das grandes cadeias de distribuição fazia os "dias aderentes" em que os livros novos chegavam a dar 50% de desconto directo e 25% ficava em pontos para usar futuramente. Chegavam a ser 3 semanas seguidas com promoções dessas. Com esta medida, as lojas vão ter de adiantar as promoções, de modo a, cada loja, não gastar nenhum dos 25 dias que poderá usar até Outubro do próximo ano.
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Magda L Pais a 19.09.2015

esses descontos por maiores vendas... não é o que já acontece noutros bens? Porque é que os livros são diferentes? não são produtos de luxo.
Quer-se incentivar a leitura com o PNL e etc e tal e depois aumenta-se o preço? não faz sentido, ninguém vai sair a ganhar disto.
Maior custo dos livros não vai significar maior lucro. Isto é pura economia (e olha que foi uma disciplina que sempre odiei). Os produtos vendem-se mais se forem mais baratos. Vendem-se menos se forem mais caros. Simples.
Faz-me lembrar a história do aumento dos impostos - ah e tal vamos aumentar impostos para o estado ter mais receita. E o que acontece a seguir? menos receita fiscal. Porque com o aumento dos impostos muitas empresas fecharam, mais desemprego, menos transacções. É tão simples que até eu, que odeio economia, consigo ver
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Andy Bloig a 19.09.2015

Acontece em todos... a diferença é que há 10 anos atrás, quem fazia o preço era o fornecedor. Agora quem faz os preços são as cadeias de distribuição. (se tens acompanhado as notícias, tiveste as sardinhas (apesar de se centrarem nas quotas de pesca, o outro problema é o preço pago por kg) e o leite, nestes últimos 3 meses, com problemas similares. As maças, cerejas e as laranjas no ano passado.) 
Se uma editora quiser colocar uma edição de 2000 livros no mercado e ter, um mínimo de 1000 vendas, precisa das grandes cadeias retalhistas (das 5 maiores, 2 são hipermercados). Esses, só vendem os livros tendo descontos muito muito grandes. O custo de produção unitário da editora é fixo, vendam 250 ou vendam 2000.  (para os produzirem podem conseguir melhores preços para edições de maiores números, no entanto, o valor unitário não muda nada próximo do que é pago pela cadeia de distribuição.) 
E são essas que oferecem aqueles cartões e ofertas, aquando dos lançamentos. Vendem mais, sim. A editora não ganha mais por vender mais... muitas vezes até ganha menos por vender mais do que vender poucos (em valor unitário) (é por causa disso que tens 2 editoras a conseguirem regurgitar as pequenas editoras, porque uma editora pequena não consegue publicar e vender, sem o apoio dessas cadeias de distribuição).
Foi por isso que, em vez de criarem uma lei que obrigasse a um preço base (tal como acontece com a lei da formação de preços, onde a venda ao público não pode ser feita abaixo do preço de custo, a não ser nos 25 dias, anuais, de saldos ou com produtos com menos de 15 dias para o fim do prazo de validade, outra lei criada para evitar aquelas promoções loucas de 50% de desconto em toda a loja, como fez um certo supermercado), foram adicionar as bonificações dadas pelas grandes cadeias, ás proibições. 
Porque a lei dos 10%, durante os 18 meses após o lançamento para o mercado, já existe desde 2006. Só que não cobria estas ofertas, cartões e prémios por aquisição. Com esta publicação, até as próprias editoras, que tem lojas online, vão deixar de usar alguns dos sistemas que usam agora. O interesse deles nestas alterações, está na venda para as outras cadeias de distribuição. Os 10-20% que eles chegam a oferecer, a mais, nas suas próprias lojas, estão a contar ganhar mais com as vendas feitas nas outras lojas... que lhes adquirem os livros para vender ao cliente final (nós). (acerca dos portes, já li que existem lojas a questionar o governo se eles estão incluídos ou não na lei, pois são um serviço à parte, pela leitura da lei, eu diria que sim... há que esperar pela resposta do ministro da economia) E na ideia que as pessoas compram os livros por gostarem e o resto ser um extra... 
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Magda L Pais a 20.09.2015

sabes quem vai ganhar mais? quem vende livros usados. Só, mais ninguem
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Cris a 21.09.2015

É isso e o facto da APEL cobrar entre 3 a 5 euros  pelo ISBN de um livro! Um autêntico roubo! Isso é uma das explicações para os livros serem tão caros (não é a única, mas ajuda). Claro que a APEL esfregou as mãos de contente.

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