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Lembro-me, em criança, que adorava ir ao emprego dos meus pais. Lembro-me do meu pai me ir buscar à escola e de ficar com ele no balcão do banco
(e de dizer aos colegas dele que nunca iria trabalhar no Banco Totta & Açores… como que para se rir de mim, ditou o destino que começasse a trabalhar nesse mesmo banco aos 20 anos, e ainda cá estou, com muito orgulho)
Enquanto ele acabava isto ou aquilo antes de irmos para casa.
Ou de quando a minha mãe começou a trabalhar, pertinho de casa, e eu ia lá buscar isto ou aquilo.
Era uma criança e era uma grande alegria para mim visitar o mundo dos adultos, onde os meus pais passavam o tempo que não estavam em casa connosco.
(talvez por isso, quando fui mãe, fiz questão de também levar os meus filhos ao meu local de trabalho, para saibam onde estou quando não estou em casa)
Lembro-me, em criança, de dar a mão ao meu pai ou a minha mãe. De serem eles (mais a minha mãe, sem dúvida) a irem comigo ao médico, a preocuparem-se com a minha saúde
(ainda hoje isso acontece, afinal os filhos são sempre nossos filhos e as preocupações com eles não acabam, só mudam)
Nos últimos tempos os papéis inverteram-se. A saúde do meu pai está cada vez mais fragilizada, e agora sou eu (ou as minhas irmãs) que o acompanhamos ao médico ou às urgências do hospital quando é necessário. Ontem foi ele que me deu mão para o ajudar a caminhar até ao médico e foi ele que veio almoçar comigo ao meu local de trabalho.
(e o orgulho que senti porque, quase 17 anos depois dele se ter reformado, ainda houve quem o conhecesse?)
De filhos passamos a pais dos nossos pais, invertem-se os papéis e, se um dia foram eles que cuidaram de nós, passamos a ser nós a ter de cuidar deles. Não é fácil, seguramente que não, mas é o natural, o que devemos fazer, o que eles – os nossos pais – merecem que façamos por eles.
A minha tia Lucília morreu. Depois de anos a lutar contra o cancro, aconteceu o inevitável. A semana passada morreu. E morreu como viveu, com a família por perto.
Assistiu ao meu parto, estava lá quando a minha mãe disse à enfermeira que não queria que eu nascesse e ela lhe respondeu que devia ter pensado nisso nove meses antes e que agora eu ia mesmo nascer. A primeira vez que respirei, ela estava ao pé de mim. 47 anos e mais uns meses depois, os papeis inverteram-se. Estava ao lado dela quando ela respirou pela última vez.
E a mulher que – em acesa disputa com a minha avó – era uma segunda mãe, morreu fisicamente mas continua viva em todas as lembranças. Porque aqueles que amamos só morrem quando deles nos esquecemos.
E o orgulho imenso que senti (e sinto) pela forma como os amigos dela - presidente da república incluído - a homenagearam nos dois jornais por onde passou? (podem ler aqui, aqui, aqui, aqui e ainda aqui e aqui)
A vida em família é, permanentemente, uma inversão de papéis. Cuidamos de quem cuidou de nós e esperamos que, um dia, de quem nós cuidámos possa cuidar de nós. A lei do retorno. O bumerangue, que nos dá o que nós damos aos outros.
E só assim faz sentido.
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