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Mais facilitismo na educação?

por Magda L Pais, em 25.02.15

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Depois de ler que Conselho Nacional de Educação defende fim dos chumbos por considerar que a “retenção dos alunos” sai demasiado cara ao Estado, pode provocar "problemas emocionais" nos alunos e não é eficaz, belisquei-me porque não estava a acreditar. Mas afinal parece que é mesmo verdade.

Pobres de nós, que fomos crianças numa altura em que a escola nos ensinava a sério e que, quem não aprendia, chumbava e tinha de voltar a repetir tudo de novo até aprender o suficiente para passar para a fase seguinte da aprendizagem.

Pobres de nós, que fomos crianças, numa altura em que as preocupações não eram financeiras mas sim de educação, de aprendizagem.

Pobres de nós, que fomos crianças numa altura em que um bom puxão de orelhas – no sentido figurativo – nos tirava as frescuras dos problemas emocionais por teremos chumbado.

Pobres de nós, que fomos crianças numa altura em que os erros de português eram corrigidos e que tínhamos trabalhos de casa para fazer todos os dias da semana, ao fim de semana e nas férias, porque a aprendizagem era continua.

E, acima de tudo, pobres de nós, que fomos crianças numa altura em que nos ensinavam que tínhamos de nos esforçar pelos objectivos que queríamos atingir – passar de ano, ter boas notas, por exemplo – e que nada nos era dado de mão beijada.

Teremos sido nós que fomos pobres ou serão estas crianças agora, as que vão ter ainda mais facilitismos nas escolas, que serão as pobres? As que vão achar que não vale a pena esforçarem-se porque lhes é dado tudo, as que vão achar que os objectivos vêm ter com elas e não são elas que vão ter de lá chegar, as que não sabem ouvir não porque essa palavra lhes pode provocar problemas emocionais?

Que futuro terão as crianças de hoje se os pais não os educam porque tem medo que elas, as crianças, fiquem melindradas?

E que futuro terá um país em que os adultos de amanhã, crianças de hoje, não tiveram uma aprendizagem correcta e que tudo lhes foi dado sem pedir nada em troca? Não ficará, num futuro próximo, mais caro ao estado ter adultos quase analfabetos, ignorantes, prepotentes e pouco educados, do que hoje dar um ensino como deve ser às crianças?

Já agora e com tanto facilitismo, não seria de se entregar o diploma da faculdade aos pais dos bebés quando vão pedir o cartão de cidadão? Assim escusa de haver escolas e professores – o resultado é quase o mesmo. Poupava-se nos custos e não havia, de certeza, problemas emocionais nas crianças, coitadinhas delas…

 

(e antes que me atirem farpas e tijolos, afirmo já que sou mãe de duas crianças a quem digo que sim e que não e a quem ensino a lutar pelos objectivos que querem atingir, com respeito e educação pelos outros)

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24 comentários

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Nathy ღ a 25.02.2015

Mais um pouco e as crianças só têm que ir para a escola brincar que no final do ano passam de qualquer maneira. Não gosto de facilitismos. Tira o mérito de quem se esforça.


PS: Opahhh... se essa do diploma entrar em vigor também quero meu. Visto a minha licenciatura está a ser tirada a ferros. loool
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Magda L Pais a 25.02.2015

exactamente, Qual é o mérito de se ter tudo de mão beijada? nem sequer sabe bem
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Ana CB a 25.02.2015

Que deve haver muito mais apoio aos alunos com dificuldades, que os métodos de ensino e aprendizagem de grande parte do nosso sistema estão obsoletos e têm de ser revisto, que o ensino deve ser mais individualizado, que as turmas têm alunos a mais e os professores (muitos deles) poucas condições para ensinarem convenientemente, que há professores que não deviam sê-lo e outros que estão desempregados e deviam estar a dar aulas, que os programa curriculares são em muitos pontos uma treta, que o ensino também começa em casa... com tudo isto eu concordo. Agora que por causa da falta de tudo isto (e se calhar para ficarmos bem vistos na estatísticas) se institucionalize o "deixa andar" e retire responsabilidade e exigência aos alunos (e por acréscimo ao pessoal docente), com isto eu não posso concordar nunca. Uma coisa é exigir níveis insuportáveis de excelência às crianças, outra é não exigir nada. Entre estes extremos há todo um mundo de soluções que podem ser adoptadas, mas este conselho do Conselho espelha bem a desorientação e falta de inteligência que grassa na nossa "classe dirigente". A ideia subjacente até pode ter o seu mérito, a solução apresentada é que não faz qualquer sentido.
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Magda L Pais a 25.02.2015

uma boa reflexão, a tua. De facto os problemas existem, sempre existiram. Não me lembro, dos meus tempos de escola, de alguma vez termos terminado o programa previsto para aquele ano lectivo. E depois encadeava, o inicio do ano seguinte era para acabar a matéria do ano anterior e no fim não davamos tudo o que era daquele ano. Podem ter razão nas causas, não tem, de todo, na solução. Isto só vai criar ainda mais problemas em vez de os solucionar
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Ana CB a 25.02.2015

Claro que sim, e como bem dizes no teu post corremos o risco de daqui por uns anos ainda termos jovens e adultos mais ignorantes e menos bem preparados do que agora. Sempre defendi que há dois pilares essenciais para o bem-estar e o futuro de um país: a educação e a saúde. São duas áreas onde o objectivo não pode ser poupar nem obter lucro, mas sim proporcionar às pessoas o melhor serviço possível, porque está em jogo o futuro. Um país é feito de pessoas, não de coisas. As coisas não existem sem nós. E se não tivermos bom ensino e boa saúde, então não temos pessoas capazes e habilitadas para trabalhar, nem agora nem no futuro. Isto daria para uma conversa de horas, mas como também muito bem dizes os problemas não são de agora, já vêm de longe, e derivam de uma enorme "cinzentice" de pessoas que foram e são educadas a pensar de forma rígida, sem imaginação, sem vontade de mudarem o sistema, e sem capacidade de olharem para lá dos meros interesses económicos.
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Magda L Pais a 02.03.2015

esses dois pilares que falas, a saúde e a educação, são duas areas onde a poupança de hoje nos vai sair cara amanhã. Já se vai vendo isso agora, daqui a uns anos será bastante pior, de certeza.
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Cris a 25.02.2015

«Não ficará, num futuro próximo, mais caro ao estado ter adultos quase analfabetos, ignorantes, prepotentes e pouco educados, do que hoje dar um ensino como deve ser às crianças?»
É esta a verdadeira questão... Por um lado, convém-lhes, por outro podem ter gente a alistar-se no estado islâmico...
Estão a criar monstros e depois não se queixem se lhes morderem as mãos...
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Magda L Pais a 25.02.2015

o estado está a reflectir aquela que é a cultura de muitos pais hoje que não contrariam os filhos para não os melindrar. e que ficam ofendidos e aborrecidos quando são chamados a atenção pelos professores. Não prevejo um bom futuro para este sociedade que estamos a criar
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Olívia a 25.02.2015

E eu que andei uns dias sem ouvir notícias lembrei-me ontem de ligar o rádio na hora de almoço e o que ouvi... fez-me querer desligá-lo outra vez...
Então mais apoios para que os meninos não chumbem??? Mas se já é suposto haver apoios e não há? Se uma professora de ensino especial não tem hora de almoço para estar com a minha filha 90 minutos em vez dos reduzidos 45 que lhe deram este ano, já a psicóloga que seria uma por cada mil alunos ainda não a vimos nestes cinco anos de escola neste agrupamento... como? Como é que é possível pensarem nisto nesta altura?
Como podem pensar que dar mais apoios vai evitar que os alunos chumbem? 
Nem me venham com conversas... logo a mim que pedi ao ministério para chumbar a Margarida no 4º ano...
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Magda L Pais a 02.03.2015

quem manda esquece-se que estes facilitismos e estas poupanças vão sair muito caras num futuro próximo, quando as crianças de hoje forem adultos e não estiverem minimamente preparadas para coisa alguma
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Olívia a 02.03.2015

Exatamente. E o pior é que daqui por vinte anos provavelmente ainda estaremos por cá... e teremos de lidar com pessoas com esta formação em todos os locais, desde centros de saúde, escolas, supermercados, lojas, cafés...
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Magda L Pais a 02.03.2015

em todo o lado. Vamos chegar a um ponto em que nem os médicos estarão bem preparados, afinal é um curso que fica bastante caro e é preciso poupar
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Sofia Margarida a 26.02.2015

Ora nem mais, os médicos depois do parto podem entregar logo ao bebé a sua profissão e todos os diplomas ! É muito mais fácil...
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Magda L Pais a 02.03.2015

e mais barato. Assim ninguem fica melindrado e chateado, e não se gasta dinheiro
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Ora aí está uma maneira simples de criar uma geração de mimados! 
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Magda L Pais a 02.03.2015

e barata! e barata que agora o que interessa é o custo
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marrocoseodestino a 27.02.2015

Essa de entregar o diploma quando se vai buscar o cartão de cidadão parece-me bem Image
Afinal, o estado quer poupar.
Bem, eu já não via um futuro risonho, nem a luz ao fundo do túnel, mas com decisões do género parece-me que o futuro vai ser mais negro.
A minha chumbou um ano e não foi por isso que ficou traumatizada. Afinal não sabia o suficiente para o merecer.
Beijinho
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Magda L Pais a 02.03.2015

não conheço adulto algum que tenha ficado traumatizado por ter chumbado em criança. Conheço sim muitas crianças que passam de ano mal preparadas e depois se sentem inferiores às outras porque não percebem o que lhes estão a explicar nos anos seguintes
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É lamentável o estado do ensino em Portugal, é vergonhoso dar essa ideia. Quanto mais executa-la. Anda tudo louco...


http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/
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Magda L Pais a 02.03.2015

e vai piorar, e vai piorar...
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Mom Sandra a 27.02.2015

Bem, vistas bem as coisas olha só a loucura da poupança:
as crianças deixam de chumbar logo os professores deixarão de ter utilidade - poupa-se nestes cursos superiores - logo as escolas deixarão de fazer falta - poupa-se nos edifícios - logo os livros passarão a objectos obsoletos, logo acabam-se as gráficas e a venda de papel, and so on, and so on....

Já se deviam ter lembrado disto há mais tempo, não tínhamos precisado da Troika...
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Magda L Pais a 02.03.2015

lá está, daí eu sugerir que se entregue logo o diploma à nascença. Poupa-se em tudo o resto
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David a 03.01.2016

O combate ao insucesso escolar não pode ser feito pela subversão do sistema... Só vejo baixarem os níveis de exigência, facilitarem as passagens de ano, dificultarem os chumbos, perdão, as retenções... Vejo alguma indisciplina e falta de brio dos alunos, falta de autoridade dos professores e é natural que possa haver desmotivação de quem estuda quando se premeia com a passagem de ano quem não estuda...
Pergunto: o que podemos fazer contra isto?
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Magda L Pais a 03.01.2016

temos todos de fazer alguma coisa. Começando pelos pais, que muitos se demitem do seu papel e não querem nem saber se os filhos sabem ou não sabem desde que não sejam contrariados. A sociedade não gosta de contrariar as crianças, dizem que lhes faz mal...

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