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Hoje vamos conhecer a M.J., autora do blog E agora? Sei lá... e do livro Chama-lhe Amor que eu tive o grato prazer de ler em primeira mão e de o apresentar no dia do lançamento. Já leram? não? Então ide rapidinho comprar para ler que vale bem a pena.
pressupõe-se que a MJ diga um monte de asneiredo numa cena destas, não é? que arreganhe os beiços e despreze estas coisinhas dizendo parvoíces como "oh, a M.J é a M.J. e está a cagar para estas merdas".
mas não.
não porque a M.J. gosta da Magda e está até bastante satisfeita com dez minutos de atenção onde pode dar asas ao narcisismo puro que lhe enche as estrias do joelho direito e esclarecer umas coisitas.
a M.J. é uma personagem, escrita por uma pessoa, com claras tendências de má criação e que reflecte em quase tudo o que é possível, dentro do socialmente aceitável, a pessoa que lhe dá voz. a M.J. sou eu ainda que eu não seja só a M.J. alguém que seja só a M.J. será incapaz de ter uma vida para além dos foda-se que lhe saem da alma, numa praga contra as merdas que assiste e não entende.
a M.J. é também a pessoa que a escreve. é aliás, a parte da pessoa que escreve que essa mesma pessoa mais gosta (profundo, não?). mas não é só. e talvez tenha sido isso que levou a mal entendidos e ataques à personagem: a confusão de que, contrariamente a muita gente, a personagem de um blog é integralmente alguém. não é, mas é também. (a pessoa que escreve a M.J. é quase toda as banalidades dos dias cinzentos que escreve e ninguém lê – ou lê alguém que lhe copiou o título.)
dúvidas? ide à tasca do lado.
eu não conhecia a maria alfacinha. achava até um pouco triste que alguém quisesse ter um pseudónimo destes (não é ridículo alguém que diz as porcarias que eu digo achar triste seja o que for?) mas depois conheci alguém que conhece a maria alfacinha e de quem eu gosto muito, e foi, creio eu, através desse alguém que a maria começou a frequentar o tasco e a pedir umas bejecas nos intervalos, trocando dois dedos de prosa por entre os tremoços com a gerência. e a gerência passou a gostar dela. agora, todo este palavreado para o seguinte: porquê o quê?
tudo. deliro com eça e se ele estivesse vivo fazia-lhe a corte largamente.
leio os maias todos os anos desde que tinha dezasseis. isto faz, fazendo-lhe as contas, umas doze vezes. li mais do que isso porque o estudei integralmente para exames. o meu exemplar dos maias está todo rabiscado, com anotações a lápis, caneta e gordura de dedadas de gente que todas as vezes que o lê não consegue fazer pausas para comer afastada dele.
o que me atrai sobretudo no livro? o facto de encontrar qualquer coisa nova que não havia reparado de todas as vezes que o li antes. o facto de me identificar com qualquer coisa que não me identificara antes. o facto de o livro se ajustar, de cada vez que lhe pego, a um pedaço da minha vida ainda que completamente distante da história principal. e o facto de me sentir quase dentro dele. não é como livros em que nos achamos quase um personagem. em que vimos como num filme o que é narrado. os maias, para mim, vai para além disso. é o regresso a uma casa que eu assumo como minha. a conversa com personagens que eu assumo como parte integrante da minha vida. e claro, os maias é o auge de esperança do “ainda o apanhamos” que eu sigo por mais vezes que proclame ao mundo que desisto.
os maias é uma aspiração plena de algo que eu nunca conseguirei escrever ou imaginar. nem sequer tentar, porque quando tentamos chegar a algo que achamos demasiado genial sentimo-nos ainda mais minúsculos e incapazes no que somos.
tal como agora, quando quero explicar o que me fascina e não consigo.
cinema paraíso. é quase banal mas foi visto numa altura em que a história, a música, o significado me fizeram sentir quase exposta numa cena de um filme. eu era o totó e nunca mais ia regressar apesar de ter regressado e sentir saudades, demasiadas quando não regresso.
não sabia que as pessoas pensavam isso. a M.J. sou eu e eu tenho vinte e oito anos. a M.J é a parte mais louca, mais desbocada, mais sem filtros de mim própria. a M.J. é também uma despejar de fantasmas e frustrações. eu vejo-a como a miúda que sou, farto-me de dizer isso, não entendo como alguém a pode ver mais velha.
(se esta fosse a parte em que tu me perguntavas o que dizem os meus olhos, eu responderia com um lugar comum, cheio de comoção e lágrimas: porque a M.J. sofreu bastante, viveu bastante e arrancou laivos de maturidade aliados a insegurança a ferros. e porque, modéstia à parte, é dona de um pedacito de inteligência que lhe permite, às vezes, ver o outro para além dela própria.)
lês e o agora, sei lá? porquê?
porque insististe em entrar na minha vida quando eu fui tão reticente em deixar? :)
É fácil de responder (já alguma vez falamos sobre isto?). Há blogs pelos quais passo, leio e volto. Volto porque gosto da forma como escrevem, dos assuntos abordados, dos livros dos quais falam. E há blogs que me caiem no prato por acaso e que, por alguma razão que não consigo explicar (sexto sentido? intuição?) começo a pensar quem está do outro lado e de gostaria de, efectivamente, conhecer para além do blog. Passou‑se isso com o clube das pistosgas (M*, a Sofia Margarida e a Nathy), com o teu e com mais dois ou três.
Claro que, no teu caso, também ajudou o facto de te teres convidado a fazer parte do projecto Aprender uma coisa nova por dia e de me teres ajudado a entender um determinado problema (sabemos qual, não é?) e a resolver outro. Aos poucos fomos falando disto e daquilo e olha, hoje dia em que não fale contigo a coisa já não corre bem.
Ajuda, claro, o facto dos pastéis de bacalhau na tua tasca serem excelentes e eu adorar pastéis de bacalhau.
E tu? Porque acabaste por deixar?
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