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Saúde para todos ou só para alguns?

por Magda L Pais, em 09.09.16

Não gosto de falar dos meus problemas de saúde. Não faço alarido das idas ao médico, dos exames que tenho de fazer ou das dores tenho. É tema privado, ao ponto de, mesmo com a família, só falar do assunto de vez em quando ou quando sei que está tudo bem.

São feitios.

Mas hoje tenho mesmo de falar sobre isto. Sobre um problema de saúde que me afecta neste momento e na incapacidade de saber exactamente o que se passa porque não caibo numa máquina…

Ando, há coisa de um mês, com problemas na perna direita. A perna prende ao nível da anca e tem alturas que não consigo andar. As dores podem aparecer a qualquer momento, a dormir, acordada, a andar, parada, a conduzir, sentada, levantada... Enfim, não tenho sossego nem uma vida normal porque a perna me impede de fazer as coisas mais simples como calçar um sapato, subir umas escadas ou dormir uma noite de seguida. Já fiz uma ecografia que foi inconclusiva e agora mandaram-me fazer uma ressonância magnética a ver se aparece a causa deste problema. Como tenho os SAMS/SIB comecei por marcar a ressonância no Hospital da Luz mas a primeira vaga era apenas para quase 15 dias mais tarde (dia 18/9, domingo). Como tenho urgência em tratar-me e para isso é necessário saber o que se passa, resolvi contactar outras entidades para fazer o exame mais cedo tendo marcado ontem para fazer hoje às 8h o exame na Crear aqui em Lisboa. Cheguei lá em jejum, despi-me (num cubículo de tal maneira pequeno que, estando de frente para a porta, os meus ombros quase que batiam nas paredes laterais), vesti a bata e lá fui para a máquina. E depois de duas tentativas de me meterem dentro da máquina – eu e a antena do aparelho – a assistente, muito simpaticamente, disse-me que eu não cabia na máquina e que não podia fazer o exame. Teria de procurar um local com uma máquina maior.

Ora eu sei que sou gordinha. Não chego à obesidade mórbida mas já tenho obesidade grau III. Tenho uns 45/50 quilos a mais do que o devido, apesar de não parecer tanto porque até sou altinha (1m74). 

Aparentemente, não faço parte do padrão que alguém achou que devia ser o normal para as mulheres portuguesas. Já é habitual sentir isso quando quero comprar roupa (qualquer tipo de roupa), quando quero andar nos autocarros (sobram-me pernas depois de acabar o espaço entre os bancos) ou nos aviões (pela mesma razão dos autocarros) mas nunca o tinha sentido desta forma na saúde.

Bem sei que podia ter recorrido ao SNS. Mas vamos lá pensar um bocadinho. Se, para dois bypass coronários, o meu marido esperou quase um ano, se há quem esteja há três meses à espera para uma mamografia, quanto tempo acham que eu teria de esperar por uma ressonância magnética à anca? E que garantias tenho eu que caibo dentro do aparelho onde vou fazer esse exame?

Sinto-me desanimada, confesso. Por ser alta, por ter excesso de peso, por sair do padrão, por não me poder vestir como gosto, por não poder andar nos autocarros ou aviões à vontade. Mas mais do que isso, sinto-me muito mal por querer tratar da saúde – que dizem que é um direito universal – e não me deixarem.

Provavelmente deveriam ter acrescentado nos direitos fundamentais, que a saúde só é garantida para quem está nos tamanhos padrão.

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36 comentários

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Magda L Pais a 09.09.2016

sarabudja, não se trata apenas de reeducação alimentar. Sim, no meu caso é verdade que preciso de o fazer (estou a fazer!) e é verdade que a grande causa de eu ser gordinha tem a ver com a má alimentação. Mas não só. Tem também a ver com sedentarismo, com uma vida profissional que não me permite ter horários e com nutricionistas que nunca perceberam a minha doença de chron e sempre quiseram que eu adaptasse a minha profissão à dieta (quando o correcto seria adaptarem a dieta à minha profissão). Mas além do peso, a minha estrutura óssea sempre foi grande. Tenho uma anca enorme e ombros largos. Isso não vai desaparecer quando perder peso - os ossos não encolhem. E os meus ombros e anca não passaram na máquina....

Mas não sou só eu o problema. O meu marido nunca vai ter menos de 100 kg. Tem 1m93 e é todo grande. Dedos, braços, pernas, etc. Neste momento ele tem excesso de peso (obesidade mórbida) mas, mesmo que deixe de o ter (se e quando), ele nunca vai caber nas máquinas porque as máquinas não estão preparadas para malta grande - de altura e de largura - mesmo que não tenham excesso de peso. Aliás, é como, ali mais abaixo, o Andy diz. No caso dele, com 1m80, também não consegue fazer ressonâncias. Isto não devia acontecer num pais civilizado.

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