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Não como mãe mas como ser humano, um dos crimes que mais me choca e que me deixa sem saber o que pensar, é quando os pais matam os filhos. Sim, quando é o inverso também me choca mas não tanto. Crucifiquem-me se quiserem mas é a minha maneira de pensar. Pais que maltratam (seja da forma que for) os filhos é um crime hediondo mas quando os matam, ultrapassa, em muito, o hediondo.
Precisamente por isso, e também porque gosto de perceber o mundo que me rodeia, aqui há uns anos assisti a um programa de televisão onde o tema central era precisamente as mães que matavam os seus filhos – na maior parte dos casos quando ainda eram de tenra idade – ou que se suicidavam levando os filhos por arrasto.
Foi a primeira vez que ouvi falar deste conceito retorcido do homicídio afectivo.
(confesso que desconheço se este termo existe, se é reconhecido na psicologia/psiquiatria ou mesmo juridicamente, mas, desconhecendo outro, creio que será o termo que talvez se adeque mais)
E o que é este conceito? Pois bem, grosso modo a mãe (ou o pai) mata o filho porque o ama e não o quer ver a sofrer. E dizem-me vocês, quem ama não mata. O que é totalmente verdade. Mas temos de perceber que as pessoas que cometem este tipo de crime não são pessoas saudáveis. São pessoas mentalmente doentes, em muitos casos com depressões profundas e que não conseguem ter um raciocínio normal.
Para elas, as crianças estão em sofrimento e só a morte as pode salvar. Para elas, que se vão suicidar, ao matar os filhos estão a poupar-lhes o sofrimento pela morte da mãe ou do pai.
Estas mães e estes pais não precisam que a sociedade os condene, a doença já o fez. O que precisam é de ajuda, de tratamento psiquiátrico. E, acreditem, quando estiverem bem, quando perceberem o mal que fizeram… serão elas próprias a condenar-se pelo que fizeram.
Naturalmente não defendo que escapem impunes ao que fizeram. Mas também não defendo julgamentos em praça pública ou que sejam ditas frases como “eu dava-lhe a depressão dava” a propósito da mãe que matou as filhas em Caxias (e outros casos que tais).
Porque, meus caros, a depressão não é coisa de meninos. E uma pessoa deprimida não consegue, por mais que tente, raciocinar como uma pessoa que não sofre da mesma doença. Não quer dizer que toda a gente deprimida se vá matar ou que vá matar os filhos. Mas pode acontecer.
Antes de começarmos a criticar e julgar temos de perceber o que realmente se passou. Em todos os casos!
(foto da campanha A Mãe Decide da Associação Bairro do Amor)
Tenho andado para falar neste tema e hoje é o dia. É um post um bocadinho longo, mas pronto.
Todos sabemos – é público – que a amamentação tem benefícios para o bebé e para a mãe. Não vou aqui falar sobre isso, vou antes falar do meu caso específico.
Como já disse várias vezes, sempre soube que queria ser mãe. E quando engravidei a primeira vez, falei várias vezes com o médico sobre a amamentação e conclui que sim, se tiver leite, amamentarei. Mas impus a mim mesma que, logo que nascessem os primeiros dentes à bebé, acabava-se, literalmente, a mama!
Nasceu a gaiata, de cesariana e, no hospital, perguntaram-me se eu ia amamentar ao que eu disse que sim. Ela mamou, foi para o berçário e eu fiquei na cama para passarmos aquela que seria a nossa primeira noite separadas em vez de juntas. Tudo tranquilo, até porque, se ela precisasse de mim durante a noite eu teria de pedir ajuda porque não me podia levantar. Pelo meio a enfermeira avisou-me que, de manhã, iriam trazer um spray para ajudar a subida do leite (frase bonita, não acham?).
Adormeci (efeito da anestesia) e sonhei. Que era Cleópatra e que estava a tomar um banho em leite de burra. De manhã, quando acordei, percebi que não era sonho… eu estava a tomar banho em leite – do meu – e “alguém”, durante a noite, tinha-me tirado as mamas e colocado duas rochas. A enfermeira, quando viu o que se passava, foi logo buscar a bebé (que tinha dormido a noite toda) e meteu-a a mamar. O alívio, o alívio. Ainda hoje me recordo dessa duplicidade de sensações maravilhosas. Tinha a minha filha, ao meu colo, eu estava a amamentar e estava aliviada. Era tanto o leite que a gaiata mamou dum lado e a seguir quase que não pegou do outro. Da segunda vez, troca de lado e pronto. Pensei eu que a produção de leite se iria regularizar.
Qual quê!
No segundo dia e ainda no hospital, a quantidade de leite era tal que já começava a fazer caroços. Quando a bebé demorava muito tempo entre cada mamada eu quase que não conseguia baixar os braços…
Veio então uma enfermeira mais experiente a quem falei nas dores e no peso. Bom, estava quase na hora da bebé mamar e ela resolveu explicar o que deveria fazer para ela beber o máximo possível. E então, enquanto a bebé mamava, ela apertou, esborrachou e voltou a apertar as minhas mamas. Foi como sentir dois balões a esvaziar.
Não me vou alongar em mais detalhes, excepto que me sentia uma autêntica vaca leiteira. Não precisei de nada para ajudar o leite a subir e, quando a minha filha fez um mês e pouco, comecei a ter de tirar leite para congelar porque ela não dava vazão à quantidade de leite que eu tinha e o peito doía-me imenso entre as mamadas porque havia leite a mais. Infelizmente na altura não havia bancos de leite materno senão eu teria doado vários litros. Por dia.!
Quando fui trabalhar, aos cinco meses da piolha, já ela comia sopa ao almoço e ao jantar. E eu continuava a dar de mamar de manhã, ao lanche, ao deitar e a tirar quase 2 litros de leite por dia. Já o disse, eu era uma autêntica vaca leiteira. Tivemos que comprar uma arca congeladora para guardar os saquinhos com o leite que depois aquecíamos quando eu não estava.
Tive, naturalmente, gretas e naturalmente que houve alturas que me doeu horrores. Mas doía-me mais se o leite não saísse e, confesso, entre as duas dores, preferia as das gretas. Por outro lado, havia a hipótese de tomar medicação para secar o leite mas havia contra indicações e não era imediato. Optei por continuar. Eram os nossos momentos – eu e a gaiata, as duas. Eu a conversar com ela e ela a alimentar-se e a crescer. Quase que uma continuação da gravidez.
Quando a piolha fez sete meses começou a vomitar quando lhe dava a mama. Se bebia o meu leite do biberão a coisa ia, se fosse a mama vomitava. E eu ainda tirava um litro e meio de leite por dia. Lá ia eu trabalhar com a bomba, os biberões para guardar o leite e uma geleira pequenina para o trazer para casa. Um filme!
E isto durou até aos 10 meses! Foram dez meses de amamentação e que, apesar das dores, de andar de bomba e afins, foram fantásticos.
Quando o meu filho nasceu achei que ia ser a mesma coisa. Não foi. O leite não tinha tanta qualidade e o piolho precisava de comer. Cedo começamos a dar leite de lata em alternância com o meu leite. Ainda durou uns quatro ou cinco meses mas nem de longe nem de perto o mesmo que durou com a gaiata.
E agora digam-me: fui melhor mãe para ela do que para ele? Ou serei tão boa mãe dum como de outro? Tenho para mim que fui exactamente a mesma mãe para os dois, apesar de ter tido litros de leite a mais para ela que para ele. Não me parece que se possa medir a minha qualidade como mãe por ter dado mais de mamar a um e menos ao outro. Mais, a minha mãe que só teve leite para mim por um mês (ou nem tanto) foi tão boa mãe para mim como eu sou para os meus filhos. Ela é o meu exemplo!
Então se assim é, alguém me explica de modo a que eu perceba, porque é que se enfia pelas cabeças das mães que são piores que as outras por não darem de mamar? Porque é que se leva as mães que não podem amamentar a sentirem-se menos mães que as outras?
Aceito que se fale imenso nos benefícios da amamentação, mas era boa ideia que não se fizesse isso à custa de culpabilizar as mães que, por impossibilidade ou decisão própria, não o fazem? Não caberá, como em todo o resto, às mães decidirem o que fazer?
Em suma, quando é que a sociedade vai perceber que cabe à mulher – e quando muito ao seu parceiro(a) – decidir o que fazer, como e em que condições?
Eu sempre disse que queria ser mãe. Até estipulei um prazo - até aos 30 tenho de ter o meu primeiro filho. E disse isto desde os meus 17/18 anos. Quando me divorciei do meu primeiro marido, aos 23 anos, continuei a dizer a mesma coisa. E quando me perguntavam como ia fazer se estava sozinha, eu respondia - aos 30 vou ter o primeiro filho. Se estiver junta com alguém, muito bem. Se não estiver, lanço-me na produção independente. Sim, essa era a minha decisão bem definida. Alguma coisa se haveria de arranjar. E arranjou-se :) namorei, juntei-me e quando fiz 31 anos estava grávida da minha filha. Dois anos depois nasceu o meu filho.
Apesar disso, apesar de sempre ter querido ser mãe, a verdade é que não é como mãe que me sinto realizada. É como Magda - a mulher que trabalha, lê, arrisca umas escritas num blog, é filha, é mãe, casada, tem amigos, etc e tal. Tudo o que sou e faço faz de mim uma pessoa realizada e não necessariamente pela ordem que indiquei. Ter filhos é uma parte da realização mas não é A realização. Amo imenso os meus filhos, quem visita o meu blog sabe o orgulho que tenho neles mas não é por causa deles que me sinto realizada. É por ser tudo o que sou, por tudo o que faço, maternidade incluída.
Acho, acredito, que, apesar de sempre ter querido ser mãe, me sentiria realizada tanto quanto me sinto hoje se não os tivesse. Não da mesma forma, mas também realizada. Poderia ter sido opção não os ter. Mas nunca a considerei. Apesar de haver imensas coisas que não fiz por causa deles, a verdade é que também houve coisas que só fiz por causa deles. E há sentimentos que só quem é mãe consegue sentir e perceber e dos quais não saberia prescindir.
No entanto esta foi a minha opção - ser mãe. Não percebo, por isso, que haja quem critique as mulheres que optaram por não ter filhos. As opções que tomamos - sejam lá elas quais forem - são exactamente isso: as nossas opções. Por isso temos de tomar aquelas que nos realizam e não aquelas que a sociedade espera que tomemos. E sermos felizes com elas. Como eu sou por ter optado por ter os meus filhos.
Já sei que vão dizer que "lá 'tá ela de novo a por coisas da filha e tal, que mãe chata esta"... Pois, hoje é dia de trazer mais um texto escrito hoje pela minha piolha e que dá um excelente post e tema de reflexão por todos os pais e educadores. Vamos a isto:
Hoje em dia convivemos diariamente com estereótipos.
Um dos maiores é o facto de que somos tratados de maneira diferente, dependendo se somos rapazes ou raparigas. Quando entramos numa loja de brinquedos, por exemplo, reparamos logo na disposição dos brinquedos: há um espaço destinado aos rapazes e outro às raparigas e há a variação de cores e dos brinquedos em si.
Fazem-nos crer que existem brinquedos apenas para para rapazes e brinquedos apenas para raparigas. Mas não são só os brinquedos, são também as roupas e os comportamentos. As raparigas crescem a acreditar que só podem gostar de determinadas coisas e os rapazes também. As crianças crescem a pensar que tem de ser todas iguais e põem de parte quem quer que seja diferente, graças aos pais que os criaram assim.
Se uma rapariga quer um carro e um rapaz uma boneca, para quê negar-lhes? ao ter um filho as pessoas estão a pôr alguém sob a sua responsabilidade e o seu objectivo não deveria ser fazerem-nos felizes?
Eu acredito que as crianças (e não só) deveriam ter o direito a ter aquilo que os faz felizes.
Bom, eu acredito no mesmo. E quero acreditar que o fiz aos meus filhos.
Já agora, e para terminar, fica um gráfico que explica como se devem escolher os brinquedos para as crianças, que complementa, perfeitamente, este texto.
Pedi, ao meu filho Martim - que tem 11 anos - que fizesse um quadro para mim. E o meu filho resolveu fazer dois quadros. O primeiro já me tinha sido dado em 22 de Junho deste ano e falei dele aqui. Ontem recebi o segundo e confesso que estou superencantada com este díptico.
Obrigado piolho. Estou muito orgulhosa
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