layout - Gaffe
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os meus filhos começaram hoje a explicação de matemática com a minha professora de contabilidade do 10º ano (uma excelente professora, que me fez adorar contabilidade, e que é tão boa ou melhor em matemática).
Bem, mandei agora um sms aos gaiatos a perguntar como correu, já que vou ficar a trabalhar até mais tarde, e a resposta do meu Martim foi:
...pensei que não era para correr
May we meet again
Um destes dias, a meio da manhã, um sms da minha filha:
Tenho de ir ao hospital
obviamente liguei-lhe logo a saber o que se passava, ao que ela me respondeu (a rir às gargalhadas):
mãe, quando fecho os olhos não vejo nada!
(mas porquê???? porque é que não somos mais normais lá em casa???)
Quando vos perguntei onde paravam os direitos dos mais altos e dos mais pesados? falei-vos que o meu maridão (sim, ão... porque um homem com 1.93m e 145 kg dificilmente pode ser outra coisa) estava a realizar alguns exames médicos. Quer dizer, estava nada que alguns deles não pode fazer por ser grande.
Na verdade o percurso que o Miguel (o marido) fez com exames e consultas levou-me a perguntar para onde caminhas, serviço nacional saúde?
Mas chegamos, finalmente, ao dia de hoje. Um ano e alguns meses depois do início dos sintomas, hoje (talvez a esta hora) a operação realiza-se. Dois bypass coronários. Uma operação que é simples para os médicos, e muito complicada para quem está de fora.
Confesso que já tive alguns momentos em que estive apreensiva com esta intervenção. Sim, sabemos que, para os cirurgiões especializados nesta área, é quase tão complicado como tirar um dente (já vos disse que odeio dentistas?). Mas caramba, é na nossa máquina que estão a mexer.
Eu sou uma optimista. Para mim o copo está sempre cheio o suficiente. Não meio cheio mas o suficiente para o que se quer. Não aceito as coisas por meio, só aceito que as coisas corram bem. E mesmo quando algo corre mal, acredito piamente que há um lado positivo. Basta saber procurar.
Acredito, por isso, que esta operação ao coração é o caminho para que o rapazola se sinta melhor. Para que possamos, dia 25 deste mês, comemorar os 51 anos de casados. Ah.... esperem, são só 15!.. Ups...foi uma troca de mãos...
Enfim, positivismo.
O mesmo positivismo que leva a que o meu marido, quando lhe falamos que ia ter uma semana de férias da família, respondeu:
sim, sim, vou estar de férias em Lilliput.
Ou quando lhe perguntaram em que hospital ia ser operado, respondeu:
No Portugal dos Pequeninos...
E quando falava à mãe que ia ser internado na segunda-feira, explicou:
Na segunda vou para lá para ir afiar as facas e limpar a sala. Depois na terça, o talho abre às 8h.
E ontem lá fomos. Falamos com o fisioterapeuta, a anestesista, os enfermeiros e com o médico. Nós sentados no refeitório, e eles iam e vinham. Sentimo-nos importantes, parecia que estávamos a entrevistar candidatos a um emprego.
A conversa com o médico foi simpática, achei importante ter desmitificado a operação e nos ter dito que o bypass coronário é a operação mais simples que ali fazem. Foi tudo explicado, desde o momento em que vai para a sala até ao momento em que sai dos cuidados intensivos. Foi também importante vermos outros doentes que já estavam a recuperar da mesma operação e que estavam frescos e fofos.
Depois confirmamos. Para medir a tensão arterial, a manga teve de ser colocada perto do pulso porque no local do costume não prendia. Foram-lhe dadas duas batas para vestir uma à frente e outra atrás...Enfim, o homem é todo grande, nada a fazer.
E o Sr António, esquecia-me do Sr António. Que fala e fala e fala. Que vai ser operado a uma válvula mitral (é assim que se escreve?) mas que parecia que ia visitar alguém. Que estava bem disposto e que falou imenso connosco quando chegamos ao hospital e que, depois, teve o médico dele vir buscá-lo porque estavam à espera dele para fazer mais um exame... uma simpatia de senhor.
E isto é o mais importante. Mesmo numa operação. Simpatia e confiança que tudo vai correr bem. Porque vai!
E de repente ouve-se lá em casa:
sou um serial Killer! sou um serial Killer!
Quando olho... está o meu filho com uma faca espetada na embalagem de Kellogs (passe a publicidade)!
(ok, não vale a pena mencionar aqui que ele come uma embalagem das grandes de dois em dois dias, por isso sim, é um cereal Killer mesmo!)
Apeteceu-me um café depois da refeição. E pedi à minha gaiata:
Dás-me um café, por favor?
E ela deu-me. Uma cápsula da nespresso...
Depois de me rir, esclareci:
Com água! com água!
e foi isto que me foi dado:
(eu mereço! eu mereço!)
E de repente, assim do nada, ouço três pessoas aos gritos lá em casa:
foge, a casa está a arder!
dizia um
é um apocalipse zombie
dizia o outro
fujaaaammmm
dizia o terceiro
Sarapantada levantei os olhos do livro que estou a ler e vejo os três - marido e filhos - a rir à gargalhada e lá me explicam que estavam a chamar-me à imenso tempo e que eu não lhes liguei nenhuma...
Estou na sala e chega a minha filha com o último ovo mole na mão e um ar triste. E diz-me:
oh mãe, estou farta de ouvir este estar a chorar no frigorifico porque comeste os outros e a ele abandonaste-o ao frio, sozinho, sem os irmãos... Importas-te de o comer para a cozinha ficar em silêncio?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.