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Solidariedade de sofá

por Magda L Pais, em 02.11.16

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Nunca, como hoje, houve tantos pedidos para ajudar esta ou aquela causa. São os pobres, os refugiados, os migrantes, os animais, os estudantes, os desempregados, etc e tal. Causas que entram pela nossa casa dentro, em forma de apelo, partilhados vezes sem conta no facebook por almas que procuram ajudar quem delas precisa. 

Mudam-se as fotos de perfil, partilham-se fotos de um qualquer desgraçado (ou duma criança doente), um like aqui em nome de Deus, uma partilha ali que alguma entidade dará dinheiro. Apela-se ao coração e à partilha, por tudo e por nada. E fazemo-lo. Porque somos bonzinhos, porque assim ajudamos e ficamos, com a partilha, de consciência tranquila. Achamos - vá-se lá saber porquê - que partilhar um apelo ou mudar uma foto vai fazer a diferença a quem realmente precisa de ajuda.

A Movimento Animal precisava (e precisa de ajuda). E eu quis ajudar. Ajudei com um donativo mas achei que podia fazer mais. Não sou solidária de sofá, sou-o na prática. Não mudo fotos de perfil, sei que partilhar uma foto não vai fazer a diferença e não apelo em vão à ajuda. Mas ajudo - na maior parte das vezes, sem fazer alarido - as causas que me interessam.

Em nome da ajuda à Movimento Animal, organizei um passatempo solidário, ao qual dei o nome de Passatempo solidário Pilar porque a Pilar foi uma cadela que foi socorrida por eles depois de ter estado ao pé de mim e pela qual pouco ou nada pude fazer. Um livro (cujo custo é de € 14,90) e um suporte (€ 3,50). A única condição para inscrição nesse passatempo era que fosse feito um donativo para a Movimento Animal. Valor mínimo: € 2,00.

O post foi lido por 420 pessoas. Se cada uma das pessoas que leu o post tivesse doado 2 euros, a Movimento Animal teria arrecadado € 840,00. Uma excelente ajuda para uma associação que está a começar o seu trabalho e que, mesmo assim,  já tem 40 animais a seu cargo. O saldo do passatempo? € 30,00 dividido por quatro participações. Mais uma doação de alguém que tem o livro e o suporte e, por isso, não quis concorrer.

Se calhar as pessoas não se identificaram com a causa, dizem-me. Estranho... é que o post foi partilhado em páginas de apoio a associações de apoio aos animais, onde, suponho, a maior parte das pessoas que lá andam sejam fãs de animais. Partilharam sim. Porque pensam que basta partilhar os pedidos e ficam de consciência tranquila.

O problema, caros solidários de sofá, é que não se pode fazer compras com partilhas de posts. E não se evitam mortes por partilhar os apelos. Nem por mudar a foto de perfil.

Não pensem que quero cobrar ajudas (para a Movimento Animal ou qualquer outra associação) ou obrigar quem quer que seja a doar dinheiro (que, muitas vezes, é contado para chegar ao fim do mês). Quero apenas que reflictam no que podem, efectivamente, fazer porque, quem precisa, precisa de acções efectivas e não de partilhas inócuas (apesar de, obviamente, ajudarem a que os apelos cheguem a mais pessoas). E essas acções podem passar por tanta mas tanta coisa que a doação dum valor monetário é apenas uma ínfima parte da ajuda que podemos dar.

A boa notícia? a Biblioteca de Fajã de Ovelha continua a crescer. E podemos todos continuar a ajuda-los. Vamos continuar a alimentar uma biblioteca?

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Mixed feelings

por Magda L Pais, em 04.09.15

É assim, com muitos sentimentos contraditórios, que assisto à crise dos migrantes e às toneladas de palavras – a favor, contra, assimassim – que se trocam sobre este tema.
Ao contrário do que é habitual, este post não tem uma foto precisamente por isso, porque é difícil mostrar, em imagens, a confusão que grassa por esse mundo fora com esta crise humanitária que se diz – e eu acredito que seja – sem precedentes.
Quem espera encontrar aqui um texto de total apoio aos migrantes e a quem lhes quer guarida a qualquer custo, pode sair agora. Não é isso que vai encontrar.
Da mesma forma, quem espera encontrar um texto totalmente contra também se pode ir embora, porque também não é isso que se segue.
Fiquei sozinha? Provavelmente sim mas, ainda assim e para mim, escrevo-o à mesma.
As notícias e as imagens falam por si. Homens, mulheres, crianças. Seres humanos de todas as idades fogem, como podem, da guerra que se vive do outro lado. Alguns – demasiados – encontram a morte quando é dela que querem fugir. Pelo meio, alguns – não os suficientes – chegam a um sítio qualquer onde esperam encontrar a liberdade, a fortuna (mesmo que essa fortuna seja só ter o que comer na próxima refeição) e um tecto onde dormir.
São famílias inteiras, que só trazem com eles a vontade de viver e a roupa que tem vestida, que procuram algo e que se arriscam a perder tudo e que, por isso, merecem todo o meu respeito e consideração e gostaria, a sério que sim, de os poder ajudar e de lhes dar algum ânimo.
Mas...
e é este mas que me preocupa, quem me garante, a mim e a vocês que, pelo meio, não vem terroristas do Estado Islâmico ou do raio, preparando ataques ou o que seja, de modo a causar estragos (e leia-se, por estragos, mortes) entre os europeus?
Quem me garante que esta situação toda não está a ser orquestrada para que a Europa acabe colonizada por parte dos muçulmanos radicais?
Ajuda-me a pensar nisto o facto de se ter sabido, aqui há uns dias, que, num dos barcos de migrantes – que se saiba foi só num, mas aconteceu – os cristãos que estavam a bordo foram atirados ao mar logo no principio da viagem.
Ajuda-me a pensar nisto o facto de alguns – não todos – exigirem ir para determinados países e não aceitarem ficar em locais onde os podem ajudar.
Ajuda-me a pensar nisto o facto de alguns – não todos – não querem ser identificados e quererem fugir ao controlo das autoridades (e, de, inclusivamente, já ter sido identificado um terrorista no meio deles).
E ajuda-me a pensar nisto a falta de humildade de alguns – muitos – dos migrantes, daqueles que sobrevivem, e que dão entrevistas exigindo comida, casas de banho, vistos, documentos, dinheiro, passagens e o que mais calha.
Mas
e há aqui outro mas que importa.
Aqui, em Portugal, ali em Espanha e mais ao lado, na Grécia assim como na Itália – dando apenas alguns exemplos – também há quem precise de comida, de casa de banho e de uma vida digna. A esses, que são Europeus e que já cá estavam, quem lhes vão dar alguma coisa?
Sou a primeira a dizer que se deve ajudar as pessoas que precisam com o que precisam.
Mas
(esta história tem tantos mas)
quem ajudará quem vai ajudar os migrantes? E a que custo?

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Peditórios e afins

por Magda L Pais, em 09.05.15

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Já expliquei aqui, em tempos, que não dou dinheiro a sem abrigos e/ou pedintes porque já me senti, várias vezes, enganada. E porque? Entre outras, porque quando lhes oferecia comida - a razão pela qual, alegadamente, estavam a pedir dinheiro - recusavam. Ora uma pessoa que precisa de ajuda para uma coisa não a recusa, não acham?

Passei, por isso (e não só) a dar comida quando aceitam. Se não aceitam, olhem, temos pena (ou então não, que eu não sou nenhuma ave) mas dinheiro não levam.

A outra hipótese para ajudar é estarem a vender artesanato ou bens que tenham. Não me faz confusão alguma comprar o produto do trabalho ou um livro, um quadro ou coisa que o valha para ajudar. E nem precisam de se fazer de desgraçadinhos e de me tentarem impingir uma vida desgraçada. Se gosto, se quero, compro. Não gosto ou não quero, não compro. Assunto arrumado!

Vem isto a propósito duns peditórios que andam, outra vez, a circular por ai. De pessoas que nos tentam impingir desgraças atrás de desgraças e que pedem ajuda - para arranjar os dentes, para comprar uma máquina, para uns sapatos ortopédicos, etc. Dão o NIB assim como quem não quer a coisa e dizem que só assim conseguem o que precisam porque o tio, o primo e o canário estão desempregados. Depois acabam por ser vistos, num centro comercial, a fazer birras à porta duma qualquer loja, para que os pais, que afinal estão de boa saúde e até tem um ordenado regular, lhes comprem coisas que não precisam. Ou então, quando alguém dá algumas dicas de como apresentar melhor o artesanato ou os bens que tem para venda, respondem torto e sem maneiras, mostrando que, afinal, talvez não precisem tanto.

Não me faz confusão, volto a dizê-lo, a venda de bens usados, sejam lá eles quais forem. O OLX e o Custo Justo vivem precisamente disso e há centenas de grupos no Facebook onde se pode vender e trocar o que não se quer. Desde que haja troca efectiva do bem, por mim é na boa.

O que não é na boa é ver apelos, das mesmas pessoas, para que lhes transfiram dinheiro para a conta porque precisam de ajuda e são uns desgraçados. E mais confusão me faz porque essas pessoas já foram apanhadas na malha da verdade e a opção foi por mudar a conta, abrir outro blog e alá que daqui vai mais um peditório. E os pategos que caiam, pois claro.

Cuidado, muito cuidado, a todos os que caiem nestas esparrelas. Comprem tudo o que queiram e esteja à venda mas não dêem dinheiro nestes peditórios que podem ser falsos.

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Não dou dinheiro

por Magda L Pais, em 20.02.15

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a sem abrigos e/ou pedintes. Não o dou e não me sinto pior pessoa por isso.

E não dou porque, aqui há uns anos, uns valentes anos, estava na varanda da minha casa a estender roupa e vi sair uma invisual dum carrão daqueles que poucos têm dinheiro para comprar. Até aqui tudo tranquilo, não fosse o caso de, passados alguns minutos, a mesma invisual me estar a bater à porta a pedir dinheiro porque não conseguia alimentar os filhos… Além de não lhe ter dado dinheiro confesso que me apeteceu mesmo foi dar-lhe com uma panela na cabeça. Limitei-me a fechar a porta e jurei que não voltaria a dar dinheiro.

Sim, já sei que ides todos dizer que não são todos iguais e que alguns precisam mesmo.

E eu até acredito, não julgo todos pela mesma bitola, mas dinheiro não dou.

Dou alimento. Dou comida. Se estou num café ou num restaurante, convido a pessoa a comer um prato de sopa ou uma sandes – dependendo da hora. Pago – quando posso e se posso – a refeição completa se for preciso.

(no outro dia, estava eu a comer um cozido á portuguesa quando um romeno entrou a pedir dinheiro. Disse-lhe que lhe pagava uma sopa e ele aceitou. Mas depois olhou para o meu prato e disse – nunca provei, é bom? E eu disse-lhe: então é altura de provar. Disse-lhe para se sentar numa mesa e pedi que lhe servissem o prato de cozido e uma bebida – ele quis água. A alegria nos olhos dele foi todo o pagamento que precisei, se bem que o homem me agradeceu vezes sem conta enquanto comia)

Dou comida. Não dou dinheiro. E até dou carinho.

(aqui há uns anos, fui a Braga e, no café, um senhor pediu-me uma sandes porque tinha fome. Pedi que o servissem e, enquanto comia a sandes, o senhor ia-me contando que aquela sandes era a melhor prenda de aniversário que podia ter. Fazia anos naquele dia e até me mostrou o BI para comprovar. Dei-lhe um beijo na cara, os parabéns, e pedi que embrulhassem mais duas sandes e um bolo para que ele pudesse comer mais qualquer coisa naquele dia. Mais uma vez a alegria nos olhos do senhor foram, para mim, todo o agradecimento que precisava, apesar dele me ter dito, centenas de vezes, obrigado).

E se algum pedinte fica ofendido – como já me aconteceu – por lhe dizer que só lhe dou comida, então, na minha opinião, é porque não precisa de ajuda. Porque a comida alimenta e o dinheiro pode ser usado para tudo, menos para aquilo para que alegadamente, é pedido.

Por isso não dou dinheiro. Dou comida. E isto é ser solidário.

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